quinta-feira, janeiro 20, 2022

Quinta, 20.

Ontem almocei na Confeitaria Nacional (Praça da Figueira) com o João, Carlos Soares e Carmo Pólvora. Rico e saboroso almoço condimentado com o convívio simpático, sem a pimenta da política, num ambiente descontraído. Falou-se sobretudo de arte e o Carlos ofereceu ao Corregedor uma pequena aguarela porque ele lhe vai comprar uma maior e a mim que não lhe compro nada outra do mesmo formato. A Carmo, entendida em pintura e arte, ante a capacidade criativa e a desenvoltura dos desenhos do Carlos, disse que ele estava próximo dos surrealistas – uma bacorada de todo o tamanho. Adiante. Dali, João e eu, sob a batuta entendida do meu amigo que em matéria de transportes urbanos é catedrático (mesmo quando era deputado e teve carro e chofer, preferiu sempre andar nos transportes públicos; só o conheço a ele e ao meu querido amigo João Biancard dignos dos cargos que ocuparam, ambos não socialistas, claro), fomos a Campo d´Ourique ao encontro dos dois jovens fraco-portugueses que ali têm uma loja com queijos exclusivamente franceses. João, desde que lhe dei a provar uma boa raclette, ficou cliente e o filho ofereceu-lhe a máquina e ele vai experimentar fazer para os seus decerto uma melhor que a minha. Bom. Regressei já a noite descia em gavelas laminadas de luz. Por todo o lado, no lençol estrelado estendido sobre a terra, reflectiam sombras brancas, minúsculos insetos pousavam e levantavam desentendidos pelos faróis do carro. Em redor da casa, estrelas e silêncio. À minha espera doido de fome, o Black. 

         - Vou fazer como Marcelo: silêncio acerca do carnaval partidário que anda de aldeia em aldeia, de cidade em cidade. 

         - Atingi a página 200 do Diário de Julien Green. Mas vou abrandar. Prefiro saborear cada palavra, cada linha, cada página como se estivesse extasiado diante do pôr-do-sol numa qualquer ilha do Pacífico.