quarta-feira, janeiro 26, 2022

Quarta, 26.

Quando vou ao Corte Inglês como foi o caso ontem, vejo à saída do metro um rapaz apessoado, discreto, correcto que mendiga em silêncio. A mim nunca me pediu coisa nenhuma achando, porventura, que eu sou tão infeliz como ele. Fui ao seu encontro e dei-lhe uma moeda sendo minha intenção passar a fazê-lo sempre que o vir. Sorriu-me com os olhos que o coração tem e raramente se mostram. Fiquei tão comovido que tive de desaparecer de imediato. Neste país de governantes arrogantes, só os pobres são nobres. Era a eles que devíamos entregar a gestão da nação. Porque a pobreza é a maior universidade da vida e quem nunca por ela passou não pode dizer que viveu – vegetou simplesmente na imoralidade da riqueza. 

         - Regressar ao que há de mais sagrado em mim. Fixar o pensamento na transcendentalidade da vida, rumar a um mundo para além dos espaços siderais, seguir o eco do silêncio adiante das montanhas do céu de um escuro luminoso, ir pelo infinito sem fim, sem memória e sem palavra, descer o abismo em busca da estrela que nos conduz ao lugar da eternidade, leve, leve, leve...