segunda-feira, janeiro 24, 2022

Segunda, 24.

Desleixei este registo para me preitear ao romance. Também para assinalar factos e contendas entre políticos em campanha, é pura perda de tempo dado o desinteresse e a aberração do que vejo e ouço. Aprendo mais a observar o Black neste mês em que o cio o descontrola, que a olhar as carrancas dos nossos governantes no vazio das ideias e das mentiras descaradas. 

          - António Costa que se atrela a tudo o que dê votos, fez-se à onda daqueles que querem impor quatro dias de trabalho semanal. Eu estou particularmente bem posicionado para falar do assunto, pois há pelo menos trinta anos que, como director da agência de publicidade que dirigi, institui esse regime. A coisa correu bem, embora alguns meses depois tivesse retornado aos sete dias de labor semanal por imposição dos clientes que precisavam de respostas e serviços em sintonia com as suas necessidades e dias de funcionamento. Nenhuma empresa pode ter a veleidade de ser uma ilha, de contrário vai à falência. 

Dito isto, não ignoro o princípio que norteia a medida e que é este: há mais vida para além do trabalho. É verdade. Eu que levei uma vida de quase escravo, primeiro no jornalismo, sempre em aflições de toda a ordem, mouro de trabalho, tudo sobre os meus ombros, depois acumulando este com o papel de director da agência, sempre que podia reservava umas horas para a escrita e leitura, viagens e amores umas vezes descontinuados outras obsessivos, mas sempre acoitados nesse lírico estatuto. Todavia, é para mim líquido que sem trabalho não pode haver vida digna nem projectos em consonância, assim como é consensual para quem ama a liberdade, primeiro está a nossa realização pessoal e só depois o dinheiro. Não devemos viver para o dinheiro, o dinheiro é que deve “viver” para nós. A pergunta que me ocorre é esta: que irão fazer os milhares de assalariados nos três dias de folga? Com a cultura como se vê, a manjedoura da TV a carregar sucessivamente fardos de dejectos, o futebol como donos disto tudo, os políticos que temos, o sol que não nos larga, a apatia em que nos aprazemos viver, suponho que em breve os milhares de portugueses desocupados aos fins-de-semana vão tornar-se mais sonâmbulos, preguiçosos, dependentes de qualquer coisa – droga, telemóvel, horas nos centros comerciais – contribuindo para desigualdades, esquecendo-se que ao lado há alguém que não tem trabalho e portanto não tem que comer. Contudo, ainda a coisa é ululo, já o PS veio afirmar que “reduzir o horário de trabalho é criar emprego”. O seu irmão, através da voz melodiosa do pároco de aldeia, Rui Tavares, pergunta: “E como se aumenta a produtividade? Apostando na formação e na ciência, conseguindo assim aumentar os rendimentos e a sua distribuição, tirando Portugal da armadilha dos salários baixos.” Bonjour, monsieur La Palice. O que se subentende das suas palavras reverendíssimo vigário, sem redução de dias de trabalho, este dogma santamente pensado, nunca será instituído. Portugueses, trabalhem o mínimo possível, pois só assim chegarão a ricos. Tenham por exemplo políticos como José Sócrates e a elite dos socialistas (entre outros) que entopem os tribunais.