sexta-feira, janeiro 28, 2022

Sexta, 28.

É tão triste ver esta pobre geração de dependentes dos telemóveis e de outros gadgets  - suporte do imenso vazio em que vivem. 

         - O maior logro criado à sombra do planeta e da sua sustentabilidade, tarde ou cedo vinha ao de cima. Ao imporem-nos a mudança do veículo a gasolina para o eléctrico, era nítido para mim que estávamos a entrar em mais uma estratégia capitalista. Todos iriam ganhar, só os condutores iriam perder. Assim, depois de um aumento no início deste ano, a Galp acaba de anunciar mais um (a que chama actualização) a partir do próximo mês para quem carregar a bateria do automóvel. Não tarda viajar de carro está tão caro como o gasóleo ou a gasolina – em tudo contrário quando nos diziam para adoptarmos “um recurso mais amigo do ambiente e mais barato”. Como somos governados por lorpas, aceitamos tudo o que nos impõem. É por esta e muitas outras razões, que eu aprecio os franceses: já estão nas ruas em massa a protestar porque não podem viver com os aumentos de toda a ordem: combustível, frutas, legumes, electricidade, etc. A maturidade de um povo, vê-se no confronto com a autoridade do Governo obrigando-o a governar para ele e não para os interesses obscuros que presidem as decisões políticas. 

         - As amendoeiras começaram a florir! 

         - Esta tarde, encostado a um prédio da Av. António Augusto de Aguiar, deparo-me com um pobre velho, uma caixa de cartão com algumas moedas, a ler um livro como se estivesse numa ilha isolada. Depositei a moeda (um euro) que havia reservado para o rapaz de outro dia que não apareceu. O bom homem de barba e cabelo brancos, agradeceu sem levantar os olhos do texto. Pergunto-lhe o que está a ler. Oferece-me a capa onde leio A Morgadinha dos Canaviais. A poesia é irmã gémea da pobreza e Júlio Dinis o santo que a abençoa e a protege.