domingo, janeiro 02, 2022

2 de Janeiro. 

Mais um ano! Receoso de conhecer por antecipação que registos vou aqui adjudicar, sendo certo que a tão proclamada “esperança” é a arma dos corruptos, dos políticos sectários e a expectativa do povo que dela espera todas as desgraças. A esperança que é do domínio da crença cristã, e tem o sentido apontado para lá deste mundo, é arma que os poderosos e os hipócritas esgrimem para se manterem à tona sem mugirem na defesa dos seus interesses criminosos. 

         - De contrário, que quer dizer aquela trintena de cidadãos de esquerda, signatários de um documento dirigido à si próprios, onde afirmam ser “indispensável que se aproveite a oportunidade que se abre em 30 de janeiro para retribuir a confiança política de quem votou naqueles partidos”, reforçando que “só a convergência do centro-esquerda e das esquerdas” pode proporcionar “melhores condições de vida a todos e promovendo o desenvolvimento do país”. Que lata! Então porque não fizeram quando estiveram reunidos? Enfim, mais do mesmo. Espero, sinceramente, que os portugueses não se iludam e dêem a maioria aos socialistas. 

         - Os votos cínicos não param. Até aquela editora que me acha um génio e um fracasso porque não lhe dou 2 mil euros para me editar, como aquela outra que me ficou a dever 12 mil euros de direitos de autor, não me largam. Devem estar naquela: “Água mole em pedra dura tanto bate até que a fura.”

         - A tristeza deste Fim de Ano, ainda não deixou o rosto dos portugueses. Reinação é com eles, como é com eles a praia, o futebol, os concursos televisivos, a palração dos programas da manhã nas televisões, etc. Mas as gentes daqui não se podem queixar. A noite de São Silvestre, vista das janelas desta casa que, portanto, está num vale e isolada do conglomerado habitacional, foi um ribombar de foguetes antes e depois da meia-noite. O céu todo em volta, eram rabilongos de luz que iam de Palmela, atravessava todas as freguesias, até ao Seixal. Foi lindo de se ver. Até o Black fosse porque nunca vira igual ou porque o seu cérebro se pusesse a conjurar coisas dos humanos, do parapeito onde estava comigo não abandonou. Parecia tão feliz como eu a admirar aquelas cornucópias que subiam ao céu numa noite estrelada e serena. O espectáculo durou mais de meia hora. 

         - Agora, o que me reteve quase duas horas de olhos postos no ecrã, foi o Concerto de Ano Novo de Viena d´Áustria. Há anos que não perco um, mas ontem foi diferente porque tudo me recordava a minha estada na capital austríaca antes da pandemia. Corri o centro histórico com aquele par de cicerones que apareceu a ilustrar as valsas dos irmãos Strauss Josef e Eduard. David Barenboim foi o maestro que dirigiu o grupo de músicos da orquestra estatal, com a originalidade, a dada altura, de os pôr a cantar substituindo os seus instrumentos pela voz que é de todos o melhor. Ao admirar o interior dourado, repleto como é norma de flores, cheio de gente civilizada, amante de música clássica (naquele momento mais ligeira e erudita), onde havia, pelo menos duas vezes deambulado, não só na plateia como no primeiro andar com seu bar onde as senhoras de vestidos de noite e os homens de smoking, bebiam uma flute de champanhe quase ao preço do bilhete de entrada; sem esquecer a escadaria, tantas vezes aparecida em filmes, tudo aquilo mais o que a nostalgia carregada de memórias me devolveu, deixou-me ensimesmado do que fora o Império Austro-Húngaro. Estivera, precisamente, nesta altura em Viena, uma cidade coberta de neve que caiu sempre em abundância, transformando os meus dias na magia civilizacional de um país onde cabe o futebol e na mesma dimensão a cultura.   

Ópera estatal de Viena

Espaços de silêncio e beleza

A Catedral sob o manto de neve. A personagem eclipsa-se nos agasalhos  

         - Ontem tive um dia extremamente recheado de trabalho. De manhã enchi a máquina de roupa, sequei-a ao sol, dobrei-a para a Piedade dar a ferro, fiz o almoço, li duas horas, depois com a roçadora devastei a erva que pulou do relvado diante do salão (hoje terminei), tomei um duche e já não fiz mais nada que jeito tivesse entregue ao telefone que não parou um segundo: Francis, Christian, Maria José, Fortuna, o meu sobrinho, Carmo e não sei quem mais quem para o caso pouco interessa. Ao serão deliciei-me com duas horas e meia de velhas canções francesas no canal 2.