quinta-feira, janeiro 27, 2022

Quinta, 27.

Os partidos de esquerda afrontam o Chega com denodo e muito pouca civilidade democrática. Todavia, deviam interrogar-se antes a si próprios de quem é a responsabilidade pela sua existência e de milhares de portugueses lhe terem dado assento parlamentar. A esquerda, hegemónica e obcecada pelo poder, reduziu o país a duas facções, direita e esquerda, e não deixa medrar o equilíbrio e o convívio entre todos, está na origem da força que o Chega hoje possui e em tão pouco tempo. Eu não lhe dou o meu voto, mas respeito-o e aos militantes e desde que o Chega honre a Assembleia Nacional e quadro institucional, é para mim um parceiro como qualquer outro. Em democracia não se exclui ninguém, goste-se ou não. Só as urnas podem liquidar André Ventura e seus muchachos – é tão simples como isto. 

         - Terminei o volumoso volume do diário de Paul Morand. Nas derradeiras páginas (940-941) do Journal de guerre (1039-1943), o diplomata e escritor, foi indigitado para assumir a embaixada da Roménia e deixa Vichy. Este documento é curioso sob vários e interessantes pontos de vista, a começar pelos factos históricos relatados do lado de dentro do governo Laval. A grande maioria do que a li se lê, são pequenas anotações do dia-a-dia da guerra e da sujeição do marechal Philipe Pétain a Hitler. Morand sempre foi tido como o escritor que lambia os acontecimentos e logo, apressado, os abatia. Contudo, a cordilheira de factos, muitos anotados em cima do joelho, revela bem o que foi Vichy no contexto da ocupação nazi. De Gaulle nunca lhe perdoou e durante os anos do pós-guerra, Paul Morand teve que se fazer à vida de cabeça baixa. Embora a mim me pareça que houve nele uma certa intenção (provavelmente romântica) de proteger a França dos alemães guerra. 

         - Terminei o trabalho junto ao portão. Devo ter trazido para ao pé de casa de modo a utilizar nas plantas e laranjeiras uns sete ou oito carros de terra. A entrada dá gosto vê-la assim limpa, mas os meus rins barafustam contra a beleza de uma produção bem executada. Ontem tive a lareira da cozinha todo o dia acesa. Resultado: a sala de jantar e toda a zona esteve agradável até à noite, com uma temperatura ambiente cativante, devido à manga de calor que sai da lareira para o resto da divisão. 

         - São assustadoras as manobras militares russas na fronteira com a Ucrânia. Os países europeus e os Estados Unidos, enviaram material bélico e soldados para a frente de guerra. Não se percebe, vendo o que as imagens nos mostram, o que pretende Putin com aquele arsenal de combate se não é para invadir o ex-país da URSS. Penso que se o fizer, vai perder em toda a linha: económica, militar, estratégica, para além das muitas vidas ceifadas por uma ambição que não se adequa ao tempo histórico presente. 

         - A fiel Piedade esteve aí de manhã na habitual lide da casa; à tarde apareceu de surpresa para podar as hortênsias da entrada. Estive a vê-la desbastar cada ramo, melhor, a aprender dado que quando é ela que se ocupa deste trabalho, as flores reconhecem o seu toque e rebentam felizes como aconteceu o ano passado. Momentos ternos, uma aragem de alegria e bem-estar soltou amarras entre nós. E nem o ruído incessante da máquina ontem e hoje a raspar o chão entre as vinhas da erva daninha, perturbou o nosso entendimento. Glória a Deus por me conservar em vida e a viver aos ritmos da natureza neste campo aberto à amplidão da Criação!