segunda-feira, dezembro 21, 2020

Segunda, 21.

Não bastava a segunda vaga da Covid-19, como se prepara já uma terceira, variante do coronavírus que se conhece, vinda do Reino Unido com mais desgraça a descarregar sobre a humanidade apavorada a jogar à cabra cega com ela. A coisa está de tal modo preta, assim que uma mutação do vírus correu veloz pelas ruas de Londres infectando mais uns milhares, logo a França, Holanda, Portugal (viva!), Itália e outros países fecharam aeroportos, vias marítimas e terrestres, deixando a ilha isolada do mundo. O que vai sair em termos psicológicos, sociais, económicos, espirituais desta calamidade, ninguém consegue prever. Mas que os tempos vão duros, inóspitos em ternos vivenciais, destruidores dos relacionamentos afectivos, do ritmo quotidiano que separa em vez de unir, isso não há quem não medite e até os idiotas são incapazes, por idiotices bizarras, dizer o contrário. 

         - Vejamos. A nível mundial o total de casos ronda os 76 948 621; mortes 1 695 606. Na Europa os principais países com números surpreendentes são: França com 2.473.354 casos e 60.549 mortes; Reino Unido com 2.040.147 casos e 67.401 mortes; Itália com 1.953.185 casos e 68.799 mortes; Espanha com 1.797.236 casos e 48.926 mortes; Portugal com 374.121 casos e 6.134 mortes; EUA com 17.881.333 casos e 317.800 mortes. Os números são o que são, sendo certo que por todos os motivos eles tendem a apresentar um quadro menos doloroso – serve aos povos e sobretudo aos políticos. 

         - Para não fechar o dia com tanta tragédia, aqui deixou a mensagem de Boas Festas com que o Guilherme Parente acaricia os seus amigos. O mundo visto da infância do pintor é esta mancha onde cabe inteira a felicidade. 


         - Fui à Brasileira para estar à conversa com os do costume. De seguida, flanei pela Baixa bem alimentada de gente, espreitei o movimento nas lojas, levantei os olhos a admirar a iluminação natalícia, e deixei-me tomar pela cidade da minha adolescência quando entrava na Benard ou na pastelaria Suíça em busca de algum familiar, quase sempre a tia Dália, o tio Correia, a Nini, outros mais que ali iam diariamente à tarde tomar chá. E olhei demoradamente a fachada do prédio que faz gaveto com a rua Garrett e o Rossio, onde dei os primeiros passos no jornalismo, lembrando a Praça D. Pedro IV depois da uma da madrugada quando deixava o jornal a caminho de casa, sempre com os inevitáveis espectros desassossegados a rondar os urinóis que ali existiam e eram concorridos pela noite fora... Essa Lisboa ainda existe, mas agora pelos urinóis vadios da internet, com o seu grau de perigosidade e sem aquele charme que convidava ao namoro antes da concretização de qualquer coisa e era nas linhas nervosas dos circuitos sensuais o instante fulminante que enfeitiçava a morte ou o renascer da vida...