domingo, dezembro 13, 2020

Domingo, 13. 

A magia aconteceu, mas não enfeitiçou a União Europeia. Pelo contrário, condenou-a a chafurdar uma vez mais nas suas enormes ambiguidades. O problema é saber até quando. No que toca a Portugal, Costa bem pode regozijar-se esquecendo que o problema levantado pela Hungria e Polónia para obstruir os milhões de Bruxelas, é o mesmo que ele um dia alçou e se calhar irá pagar por isso. Porque os fundamentos de que acusam aqueles países, temo-los nós por cá. Não se pode vilipendiar outros países que não são governados pela esquerda, quando Portugal, após 50 anos de democracia, não respeita os seus cidadãos, despreza os velhos, os salários são baixíssimos, a justiça é só para quem tem dinheiro,  a aplicação fiscal é tendencialmente mais gravosa para a classe média, mantém dois milhões e meio de pobres, os privilégios e vantagens que os 10 por cento de ricos auferem são um escândalo, entre o cidadão e a Administração Pública quem leva a melhor é sempre o Estado, etc. etc.. O Estado e a/as forças que se apropriam dele, impondo ideologias que começam por não conferir com a prática e são jogos políticos intermináveis, que têm arruinado a economia e atrasado Portugal. Parece que vem aí uns milhões, ou seja vêem mais uns milhões, mas eu não tenho dúvida absolutamente nenhuma que o país continuará como sempre esteve – na cauda da Europa, a viver dos dinheiros mendigados lá fora, sem indústria, sem desenvolvimento, ruas cheias de modestos restaurantes, funcionários públicos medíocres, sem responsabilidades, pequenos partidos arruaceiros, com mais poder que os que a população elege, tudo governado por uma clique prepotente, servil, corrupta que depois do 25 de Abril se instalou, se governa e para aí está a palrar de manhã à noite. Mas obra nada, rien, anything. Quanto ao “Estado de Direito” que barrou a pipa de massa, como se vê, tem muito que se lhe diga. Se há país cujo “estado de direito” é mais desigual é o nosso. Se a UE continuar, um dia seremos encostados à parede, assim espero. 

         - Justamente. Tenho estado a ver uma série de programas sobre a vida e obra de Charles De Gaulle. A França recorda cinquenta anos após a sua morte, o estadista, o militar, o lutador da liberdade e o libertador da Segunda Grande Guerra. Já devo ter visto uns cinco ou seis episódios, todos extremamente bem feitos sem faltar aqueles que com ele discordaram. Mas o que é mais notável e para esta época hors norme, é a verticalidade, a devoção à causa nacional e ao povo, à democracia e ao sentimento de missão que o habitou e obcecou. Num curto espaço de anos, fez da França uma potência mundial, recusou aceitar as imposições dos EUA, não se vergou às jogadas de Churchill, caminhou, só, mas imponente com o sentido da responsabilidade e não se aproveitamento do lugar.  Viveu modestamente, ele e a mulher, e os três filhos um deficiente. Morre ano e meio depois de ter deixado o poder. A mulher Ivonne, vive ainda mais uns anos num lar da chamada terceira idade, em Paris. Existe algum político hoje que leve a vida que este grande homem levou enquanto esteve no poder e depois? Que eu saiba e alguns conheci de perto, sem cheta, todos vivem sem preocupações financeiras. Só aquele encontro incompreensível com Franco depois de ter deixado o Eliseu... mas perdoa-se-lhe pelo muito de admirável que fez à França, à Alemanha, e à Europa num todo. 

         - E esta trapalhada que surgiu do nada acerca da nota de pêsames do nosso impagável ministro Eduardo Cabrita dirigiu em Março (!!!) à viúva do ucraniano assassinado através da embaixada da Ucrânia, em Lisboa... A embaixadora, ante as perguntas inconvenientes dos jornalistas, deixou-os a falar sozinhos e desapareceu. António Costa e o seu adjunto, tomam-nos por ineptos. Mas são eles que deviam ser julgados pelo assassinato de Ihor Homenyuk. Espero que Maria Lúcia Amaral, a procuradora da Justiça, seja rápida a ajudar a viúva e os filhos do malogrado cidadão.