sábado, dezembro 12, 2020

Sábado, 12.

Tive curiosidade em ouvir o recandidato a Belém saído do bolo-rei da pastelaria Versalhes e por isso plantei-me como um atrasado mental em frente ao ecrã. Saiu-me o tiro pela culatra. Quem foi uma delícia observar foi o comportamento dos dois jornalistas que não cederam à subserviência e, embora às vezes se atropelassem, fizeram as perguntas à pessoa certa. Marcelo derrapou, não esperava tanto arrojo, não estava preparado para ver o seu habitual populismo ser desmascarado, ao ponto de lhe terem dito na cara que estava a mentir. De facto, os perguntadores centraram a entrevista na questão gravíssima do assassinato do cidadão ucraniano nas instalações do SEF. Pediram contas ao populista que as remeteu para o sacristão Costa com quem “diversas vezes” havia falado no assunto e,  subentendido, nada tinha feito. O mais grave porém, é a cadeia de cumplicidade que andou fechada a sete chaves na organização assassina. Parece que o caso de Ihor Homenyuk, não é único. Os energúmenos e selvagens não são só os três ou quatro que o mataram, são médicos, enfermeiros e pessoal menor que, sabendo dos crimes, não os denunciaram. Da longa entrevista, não houve uma só palavra em que tivesse acreditado – da boca do futuro Chefe de Estado só saíram cambalhotas na forma de discurso podre, gasto, cansado. Cito padre António Vieira (1608-1697) que vi plasmado outro dia no Público: “Todos os que na matéria de Portugal se governaram pelo discurso erraram e se perderam.”  

         - Não me apetece dizer mais nada. O silêncio é revelador da natureza humana. Ele muitas vezes é uma forma de traição.