domingo, dezembro 06, 2020

Domingo, 6.

“Será que estamos mesmo condenados a ter os mais ilustres corruptos e bandidos da Europa, em cujo elenco se incluem primeiro-ministro, ministros, secretários de Estado, deputados, presidentes de câmara e vereadores, directores-gerais, secretário-geral de ministério, presidente de instituto, chefe de policia, magistrado de primeira instância e da Relação, alguns dos mais importantes banqueiros, gestores e administradores de algumas das mais importantes empresas privadas e públicas, oficiais das Forças Armadas e dirigentes de polícia militar?” pergunta António Barreto no Público. Eu respondo: estamos. A classe política saída do 25 de Abril, salvo raras excepções da primeira leva de parlamentares e ministros, tudo o resto entrou na política por interesses pessoais, malabarismos de esquerda e direita, corrupção conjugada e protegida, aproveitamento de cargo, ignorância das bases ideológicas dos primeiros obreiros, marimbando-se para a coisa pública, preocupados em “quanto toca”. E o que “toca” é muito e vitalício: reformas e cartões de saúde, transporte privado e casa, entre outras mordomias. É, portanto, uma vida tentadora sob muitos aspectos – a mais próxima da classe aristocrática do séc. XVIII. 

         - Tempo frio e chuvoso. Tenho tudo aceso até o calorífero a gás no escritório contíguo ao salão onde escrevo diante da janela que dá para o vasto espaço que termina no horizonte cinzento. Silêncio profundo e tenebroso provocado pelo confinamento como ensaio para uma qualquer espécie de ditadura. Vou amarrar-me ao romance para que dia termine com algum valimento. São 16 horas e 8 minutos.