terça-feira, novembro 24, 2020

Terça, 24.

Portugal governado por ignorantes e gente pouco escrupulosa dá nisto: até aqui o melhor serviço que poderíamos prestar ao controlo dos gazes de estufa, era mudarmos para veículos híbridos ou eléctricos. Pois bem. Dizem-nos agora que nada disso devemos fazer, porque estes veículos (os híbridos) poluem mais que os que nos têm servido até agora. Entretanto, os gananciosos lamberam-se de gozo. 

         - Eu nem sempre aprecio o colonista João Miguel Tavares. Mas há uma coisa que considero nele: o seu inconformismo, a diferença de pensamento, o cortar a eito. O oposto do capelão da esquerda, Rui Tavares. Acerca do Chega, J.M.T. diz hoje no Público aquilo que eu diversas vezes escrevo aqui. Respigo o último parágrafo: “Lamento muito: desde que o Chega cumpra as regras do jogo democrático, não há fascismo nem `anticolaboracionismo´ que nos valha. Temos de levar com ele e lidar com o seu peso eleitoral. Até porque, ao contrário do que diz Rui Tavares, não foi o Chega que ´trouxe consequências funestas para a democracia portuguesa´. Foi o estado funesto da democracia portuguesa que teve o Chega como triste consequência.” Interessante e oportuna a farpa que J.M.T. enfia no cogote de Rui Tavares, quando este num artigo fazia a diferença entre direita “colaboracionista” e “anticolaboracionista”. Resposta de João Miguel Tavares no mesmo artigo: “À primeira das direitas Rui Tavares aconselha a formar um novo partido e a fragmentar ainda mais o espectro partidário (uma excelente ideia, como o próprio já comprovou). (Referia-se ao partido Livre que desapareceu.) Toma e embrulha. Porque este senhor capelão da esquerda, é versado em saber democrático, provavelmente professor, mas uma coisa é a teoria, outra bem concreta é a prática. Rui Tavares é o protótipo de uma certa esquerda caviar e champanhe, olha para o que eu digo e não para o que eu faço. É resquício do antigamente, quando ser do MDP/CDE e PCP era chique. 

         - Atenção: eu também militei no MDP/CDE até porque tinha por colegas de trabalho Tengarrinha, Urbano, Costa, Alexandre Cabral e tantos outros. A questão não é essa; do que não gosto é vê-los hoje a defender aquilo que condenaram antes, abrigando-se debaixo do chapéu do partido. Muitos dos dramas sociais e humanos 50 anos depois do 25 de Abril persistem, mas como estamos em democracia são tolerados e até ignorados. Criou-se uma classe política, na sua grande maioria bebendo na oposição de então, que pretende anular os princípios que vieram do regime anterior e que este não conseguiu solucionar, como se ao abrigo da democracia pudesse haver pobres, explorados, corruptos, ladrões e toda essa arraia miúda que vegeta como então nos meios de comunicação e decisão. 

         - O desplante e a embriaguez de certos “editores”, não tem limites. Pois aquele que me havia contactado para entrar numa coletânea, insiste com novo mail que, como o anterior, não terá resposta. Não resisto, contudo, a transcrever o derradeiro parágrafo, para se ver até que ponto vai o delírio e a imbecilidade deste “editor”: “Aos autores não será exigida nem oferecida contra partida para a participação na obra, não serão igualmente ofertados exemplares da mesma.” Pergunta-se quem poderá aceitar trabalhar nestas condições? Eu respondo: aquelas e aqueles que têm a escrita como factor de vaidade, importância e um ego demasiado elevado. É para esses e com esses que a empresa ganha milhares, engando os incautos e ambiciosos “escritores”. 

         - Em carta para Murry datada de 15 de Maio de 1915, Mansfield perguntava “Quem será o responsável de sermos uns isolados, de não sabermos viver realmente e de termos a mania de que tudo quanto não seja ler nem escrever é mera perda de tempo?”

         - Fui dar um passeio pela Luísa Todi esta manhã com entrada no Livramento. Pelo que vi – homens a escarrar para o chão, gente sem máscara, ajuntamentos – não admira que a cidade esteja entre as mais atingidas pelo coronavírus. Depois comprei o Público e sentei-me numa esplanada afrancesada a lê-lo. Manhã serena, sol fraco, nuvens ao longe. De volta a casa, leituras e três horas de escrita intervaladas por três carros dos ramos das oliveiras para queimar. O romance está numa fase que me inquieta - a escrita parece galopar sobre a folha do computador. Comprei o último romance de Francisco José Viegas, A Luz de Pequim. É um escritor de que gosto sobremaneira. Devemo-nos ter cruzado no Diário de Lisboa. 203 páginas tem este blogue. Não tarda, chove.