domingo, novembro 15, 2020

Domingo, 15.

A esmola que o Mágico deu aos empresários da restauração define bem a natureza do seu governo. Ele sempre governou nas margens de qualquer coisa que não chega a ser, mas que a propaganda acrescenta valor. Evidentemente, os donos dos restaurantes têm plena razão para se indignar com a penúria e sovinice que lhe oferecem. Calcular os míseros 20% de ajudas pela média do que facturaram este ano de confinamentos e pandemia, é tomá-los por idiotas. Os médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar, heróis até mais não, passam por cálculos semelhantes. Se fossem banqueiros, donos de grandes companhias, deputados ou gestores bancários, o dinheiro era-lhes lançado aos pés como tapete de glória e reconhecimento. Mas pronto, somos governados pelos ditos socialistas e isso explica o inexplicável. 

         - O Sindicato dos Jornalistas insurgiu-se contra os manifestantes que correram com eles da manifestação. Fez mal. Primeiro, porque aquilo não são jornalistas, são empregados que fazem o que lhes mandam; segundo, eu que por lá passei, aprendi a dar a informação e não a meter buchas políticas ou criticas da minha autoria. Eu vi uma menina “jornalista” a contra-argumentar com o seu entrevistado. 

         - Marcelo afunda-se com Costa na medida em que tem de pagar o empenho do primeiro-ministro na sua reeleição.  

         - Estou que não posso de contentamento. Ao ponto de ter telefonado aos meus amigos franceses que gostam de futebol a dar-lhes os parabéns por terem ganhado à nossa selecção, perdendo esta a possibilidade de seguir em frente. O que Portugal conquistou! O Planeta agradece pela baixa de decibéis, de electricidade consumida, de palração diária, de sossego, de panegíricos cínicos dos políticos e os benefícios são infindos. 

          - Francis telefonou. Passámos uma hora e quatro minutos ao telefone; como ele é surdo, poucas vezes o interrompo. De que falámos, ou antes, de que falou ele? Grosso modo da sua relação com o petit oiseau que acabou o curso e foi admitido numa empresa americana com um salário inicial de 10 mil euros. Ambos pensam comprar um apartamento no centro de Paris onde se situa a sede da empresa. Mas a conversa foi um delírio com Francis a contar-me como têm relações sexuais, o prazer do duche em comum, entre outras intimidades de que me dispenso citar e nem me interessam (quer dizer ao romancista, sim). Pelo meio, surgiam ligações culturais e até foi chamado um arcebispo, tio do meu amigo, que celebrou Missa Pascal em Moscovo onde Francis esteve presente. Francis tem 84 anos, o petit oiseau 27 (conheceram-se há três anos). O rapaz é rico; o ancião remediado. A vida nunca se explica quando temos a tentação de a padronizar; mas quando é aventura empolgante e singular.