sexta-feira, novembro 27, 2020

Sexta, 27.

Um diário este e qualquer outro que verdadeiramente o seja, regista o impulso, a indignação, a revolta com o fígado, o coração, a mente, a força da escrita, correndo o seu autor o risco de se enganar, por vezes maltratar, cometer enganos e passageiras verdades. Esse é o mais sério documento que empresta à realidade quotidiana o cunho que assinala o acontecimento, incorporando as personagens que lhe deram corpo, numa determinada época. 

         Assim, nestes tempos de pandemia, com o sofrimento a espalhar-se, muitas vidas à mercê de um sopro, milhares abandonados à sua sorte, um país baralhado, com uma governação desorientada, não é de política que precisamos, mas sim de um Governo sólido, coeso, competente, seguro. E o que temos? Um conjunto de gente atarantada, mentindo e desmentindo-se muitas vezes num só dia, cada um ocupado em parecer o boneco do ecrã de televisão, que entretém e não faz mal, como aqueles bacocos dos apresentadores que enchem as vidas vazias de milhares de espectadores com a aridez das suas próprias existências. Vem isto a tona do que escrevi ontem sobre as vacinas. Logo hoje, um coro de revolta varreu Portugal de norte a sul, de este a oeste. Felizmente que ainda há uma parte dos meus concidadãos com eles no sítio. De contrário aquela comissão de peritos (notem, PERITOS) nomeada pela DGS (registem Direcção Geral de Saúde) para coordenar a vacinação, preconiza a não protecção de pessoas com mais de 75 anos, elas que têm sofrido e foram humilhadas na merdelhice de lares onde passam o pior e mais degradante final das suas vidas. Invocam os sábios de aviário, que ainda “não há evidência suficiente sobre a eficácia da vacina neste grupo etário”. Então o melhor é continuar a deixá-los morrer, a descartá-los das obrigações que o Estado deve ter para com todos, sem discriminar ninguém. Esta comissão é um punhado de criminosos que de certeza não matará o prof. Marcelo, sua excelência o senhor professor, doutor presidente Cavaco Silva, nem outros quejandos que passaram largamente a idade que eles estabeleceram para acabar com eles. Se houvesse mais respeito e dignidade pelos cidadãos, este Governo faria como na Alemanha, França, até Espanha países civilizados que tem em conta o conjunto da nação e não a prepotência do poder socialista ou outro. E ainda a procissão vai no adro... E lembra-me eu que o Parlamento habilitar o país da lei da eutanásia! Não é preciso, não se macem, senhores! Ordenem a matança em final de utilidade do produto e antes de carregar a despesa pública. 

         - Está a decorrer, contra todas as indicações sanitárias, o Congresso do PCP. Os partidos estão antes das pessoas, dos cidadãos. No caso do PCP não sei se já notaram no país que é o seu – o dos “trabalhadores e o povo”. 

         - Ontem fui ao dentista. Passei, portanto, o dia em Lisboa. Almocei no Corte Inglês estando perto do consultório. É lugar onde não espero pôr os pés tão cedo. As multidões que por lá andam a “achatar a curva” não se recomendam. Tempo cinzento. Piedade despejou as mágoas e pareceu-me melhor quando a acompanhei ao portão. Tenho a lareira do salão acesa. O retiro forçado começa esta madrugada e só é levantado 2 de Dezembro. Rezemos ao Senhor pelos nossos empenhados governantes na causa pública. Fartam-se de trabalhar sem tempo para pensar neles e nos seus interesses familiares e partidários, os pobres, os pobrezitos!