sábado, novembro 28, 2020

Sábado, 28.

O Público deixou de fornecer informação e passou a oferecer opinião. É a nova directiva dos meios de comunicação social por uma razão simples: os jornalistas querem impor a sua opinião em desprimor da notícia tout court. Portanto, a salgalhada e a peixeirada entre articulistas baralha o leitor que apenas quer saber o que na realidade se passa no mundo, dispensando a opinião que a ele pertence. Exemplo: o confronto ideológico entre o capelão da esquerda, Rui Tavares e o porta-bandeira dos liberais, João Miguel Tavares.  

         - António Costa, sentindo o poder a desvanecer-se, saiu-se com esta: “Não é admissível desistir de proteger a vida em função da idade. As vidas não têm prazo de validade.” Logo o arcebispo respondeu do púlpito da capela de Belém: a ideia de não vacinar os velhos com mais de 75 anos “é tonta”. Mas a última opinião vem do director adjunto no editorial do Público, portanto alguém com responsabilidades: “A decisão de administrar em segurança ou não (sublinho “ou não”) uma vacina a pessoas com mais de 75 anos, não deve ser tomada em São Bento ou em Belém.” No artigo pateta o editorialista remete para a equipa de cientistas a decisão de matar ou deixar viver os anciãos. E os leitores do jornal, que pensarão eles de tanta balbúrdia? A nível ideológico, o diário parece uma capoeira onde todos cantam de poleiro. 

         - Por esta altura chegava a casa vindo de Paris. Tal não aconteceu este ano e devido às saudades que sinto dos lugares que me são queridos, viajo pela internet visitando catedrais, avenidas, bairros históricos, museus... Só este ano tenho consciência do privilégio que a amizade com a Annie me permitiu, uma vez que longe da cidade e dos amigos vivo o bulício dos dias atravessando virtualmente os sítios do meu encantamento. 

         - Dia sinistro que perdoa em grande parte o confinamento e até o reforça. A Teresa Magalhães com que estive ao telefone, disse-me que o Chiado visto das suas janelas é um sepulcro, com a Brasileira fechada e as moscas molhadas a passear por todo o lado. Escrevo estas linhas em frente o lume no salão, o computador sobre os joelhos, o ruído da chuva por companhia.