Sábado,
1 de Fevereiro.
Eu
gosto de elogiar, de agradecer. Talvez transmita a ideia que estou sempre do
contra. Não é verdade. Se sou exigente, é para melhor engrandecer quem deve ser
elogiado. Porque a generosidade, a boa educação, a atenção ao outro é não só
apanágio de civilidade como de virtude. Assim, outro dia escrevi uma carta ao IMT,
dirigida ao senhor que me remeteu num tempo correcto a novo dístico para o
carro. Detesto, todavia, os organismos públicos e privados que montam esquemas
enganadores, fingindo que dão importância e palavra ao cidadão, e depois
fazem-no passar por idiota. É o caso da
Vodafone. O que seria normal era o cliente pôr as suas questões por mail e
receber a resposta pela mesma via. Mas não é isso que se passa. A empresa
obriga-nos a entrar num fórum onde estão vários infelizes a discutir os seus
problemas com a firma. Forçado a dizer de minha justiça, sou remetido para um
número (“gratuito”) que há pelo menos três dias não funciona. É esta a
consideração e o respeito que os cidadãos merecem em Portugal. Porque somos
laxistas, não estamos para nos chatear, não nos incorporamos no todo exigindo atendimento
e consideração. Ontem fui à Vodafone no Chiado. O funcionário que me atendeu,
lamentou mas também ele para dar resposta ao meu problema, tem de passar
pelo fórum ou pelo número (“gratuito”) que não opera.
- Outro dia, em Paris, o Robert teve
uma pane no portátil. Foi ao computador e pôs o problema à operadora. Eu que
estava ao lado, disse: “Vais esperar meses para teres a reposta.” Ele estranhou
a minha observação. Daí a duas horas, veio dizer-me que já tinha o problema
resolvido – a empresa havia-o informado como proceder para solucionar a
questão. “Em Portugal é impossível, disse eu, não somos gente, somos
consumidores desprezíveis.” Riu-se.
- Recebi a multa de estacionamento,
embora eu tenha estacionado no lugar próprio para coxinhos coitadinhos. 60
euros a somar os 89 do reboque. Isto deve-se ao abuso de poder de uma polícia medíocre
a quem a farda promoveu a ditadora. Protestei uma vez mais para o organismo
competente. É por estas e muitas outras, que a democracia anda de rastos e oiço
com frequência (mesmo a novos) clamar por Salazar.
- Tempo de morrinha, húmido. Saí por
sair, quero dizer, para tomar café e voltar para casa de onde não voltei a
sair. A chuva miudinha empurrou o silêncio e instalou-se no seu lugar. Depois o
sol espreitava a terra e voltava a esconder-se.