sexta-feira, fevereiro 14, 2020

Sexta, 14.
Ainda a vida airosa “em família”. Brejnev foi encontrado pelo Fortuna a dormir no chão da capoeira das galinhas. Quando o viu ele estava num estado lastimoso, e disse-lhe que tinha saído de casa há três dias e desde então não dormia nem comia e só falava em suicidar-se. O bom do mestre Fortuna, levou-o para sua casa, alimentou-o, fez-lhe uma cama de lavado e desde esta manhã que o pobre homem não acorda. Que se tinha passado? A mulher, com vista a uma viagem à sua terra natal, na Ucrânia, decidiu vender a tamanco velho do marido e adquiriu um todo-o-terreno, metalizado, lindo de morrer. O Brejnev ficou sem o carro que era o seu instrumento de trabalho, ainda por cima desempregado nesta altura, e com mensalidades para pagar todos os meses. Uma valente discussão entre ambos com a esposa a deitá-lo borda fora. O mais curioso deste triste episódio, é que a companheira não sabe conduzir, e mesmo que queira aparecer na santa terrinha armada em abastada, vai ter que alugar um motorista ficando deste modo então uma autêntica ricaça. Que triste é a palermice.

         - Longa conversa ao telefone com a pintora Carmo Pólvora. Conheci-a mais intimamente na vernissage do Carlos e foi empatia imediata. Ela pediu-me o número de telefone e a partir daí as relações estabeleceram-se. Gosto da sua personalidade, daquele seu lado um pouco masculino onde subjaz a franqueza, a rapidez de pensamento, o brilho da verdade. Falámos de pintores e obras e, grosso modo, estou de acordo com ela. Por outro lado, há uma união familiar a Palmela e vários dos seus amigos deixaram Lisboa e vivem em quintas disseminadas até Setúbal. Expõe com regularidade em Paris e quando lhe disse que estou a contas com a versão francesa do texto da Tereza Magalhães, logo a Cidade Luz abriu os seus projectores para iluminar os detalhes que nos são caros.  


         - Tempo de sol em aranha. Acabei a poda das hortências. Cortei o cabelo. Fiz queimadas dos esqueletos das hidrângeas. Perdi-me numa esplanada à tarde, como se fosse um turista esquecido no encanto do trivial. São 18 horas e 10 minutos.