quarta-feira, fevereiro 19, 2020

Quarta, 19.
O Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida deu parecer desfavorável a todos os projectos de lei – PS, PAN, BE e Verdes – sobre a despenalização daquilo a que chamam “morte assistida”. Em grosso, o CNECV sustenta o seu juízo neste princípio:  as propostas “não constituem uma resposta eticamente aceitável para a salvaguarda dos direitos de todos/as e das decisões de cada um em final de vida, não considerando nem valorizando os diferentes princípios, direitos e interesses em presença, que devem ser protegidos e reafirmados”. Mas vai mais longe ao pôr o dedo na ferida ideológica- partidária, opondo-se à argumentação dos partidos segundo os quais esta lei é “uma exigência da sociedade portuguesa”. Pergunta-se que sociedade. A mania que os políticos têm de falar em nosso sem que tenhamos passado procuração para o fazerem, é patuá que vem de longe e revela fraqueza de argumentação. Se assim não fosse, por que razão apresentam eles uma lei que nem sequer inscreveram nos seus programas eleitorais? O país tem tanta coisa a necessitar de ser pensada, tanta coisa a modificar, tantas reformas urgentes a fazer e logo o tempo se escoa com projectos que apenas se identificam com a actividade partidária de sobrevivência. Os senhores deputados para além de ignorantes, são mal-intencionados.  Espero e desejo que a lei seja reprovada amanhã no Parlamento. A vida humana é sagrada e não pode estar à mercê das condutas levianas dos parlamentares.

         - O início de um romance é para mim sempre difícil. Tacteio, escrevo e reescrevo, hesito e desmoralizo, até encontrar o caminho de modo a que o leitor não se aperceba das dificuldades e acredite que a história é real e está a ser contada por alguém que a viveu. 

         - À imagem de Jesus Cristo, Fortuna não pára de ajudar quem precisa. Encontrei-o atarefado e apreensivo com o Brejnev porque hoje caduca a Carta de Condução do pobre homem e a papelada é mais que muita para que lhe renovam o documento. Ainda por cima, Brejnev perdeu o cartão da Segurança Social e não tem de cor o número e mais não sei quantos outros contratempos. “Que trabalheira, mestre Fortuna! – disse eu e ele: – Então que quer! De que serve rezar ave-marias e pais-nossos e não ser capaz de ajudar quem precisa.” Fiquei mudo.


         - Retornou o frio embora durante o dia o sol aqueça. Tenho as lareiras da cozinha e do salão acesas. Fiz uma hora de natação. Li depois do almoço lá fora ao sol. Voltei à filosofia com o derradeiro livro de Pierre Hadot, Não Te Esqueças de Viver, que o filósofo deixou como testamento antes de morrer, em 2010, ao neto. Escrevinho estas letras à minha mesa de trabalho com o aquecedor a gás aceso. São 18 horas e 35 minutos.