Quarta,
19.
O
Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida deu parecer desfavorável a
todos os projectos de lei – PS, PAN, BE e Verdes – sobre a despenalização
daquilo a que chamam “morte assistida”. Em grosso, o CNECV sustenta o seu juízo
neste princípio: as propostas “não
constituem uma resposta eticamente aceitável para a salvaguarda dos direitos de
todos/as e das decisões de cada um em final de vida, não considerando nem
valorizando os diferentes princípios, direitos e interesses em presença, que
devem ser protegidos e reafirmados”. Mas vai mais longe ao pôr o dedo na ferida
ideológica- partidária, opondo-se à argumentação dos partidos segundo os quais
esta lei é “uma exigência da sociedade portuguesa”. Pergunta-se que sociedade.
A mania que os políticos têm de falar em nosso sem que tenhamos passado
procuração para o fazerem, é patuá que vem de longe e revela fraqueza de argumentação.
Se assim não fosse, por que razão apresentam eles uma lei que nem sequer
inscreveram nos seus programas eleitorais? O país tem tanta coisa a necessitar
de ser pensada, tanta coisa a modificar, tantas reformas urgentes a fazer e
logo o tempo se escoa com projectos que apenas se identificam com a actividade
partidária de sobrevivência. Os senhores deputados para além de ignorantes, são
mal-intencionados. Espero e desejo que a
lei seja reprovada amanhã no Parlamento. A vida humana é sagrada e não pode
estar à mercê das condutas levianas dos parlamentares.
- O início de um romance é para mim
sempre difícil. Tacteio, escrevo e reescrevo, hesito e desmoralizo, até
encontrar o caminho de modo a que o leitor não se aperceba das dificuldades e
acredite que a história é real e está a ser contada por alguém que a
viveu.
- À imagem de Jesus Cristo, Fortuna
não pára de ajudar quem precisa. Encontrei-o atarefado e apreensivo com o
Brejnev porque hoje caduca a Carta de Condução do pobre homem e a papelada é
mais que muita para que lhe renovam o documento. Ainda por cima, Brejnev perdeu
o cartão da Segurança Social e não tem de cor o número e mais não sei quantos
outros contratempos. “Que trabalheira, mestre Fortuna! – disse eu e ele: – Então
que quer! De que serve rezar ave-marias e pais-nossos e não ser capaz de ajudar
quem precisa.” Fiquei mudo.
- Retornou o frio embora durante o dia
o sol aqueça. Tenho as lareiras da cozinha e do salão acesas. Fiz uma hora de
natação. Li depois do almoço lá fora ao sol. Voltei à filosofia com o
derradeiro livro de Pierre Hadot, Não Te
Esqueças de Viver, que o filósofo deixou como testamento antes de morrer,
em 2010, ao neto. Escrevinho estas letras à minha mesa de trabalho com o
aquecedor a gás aceso. São 18 horas e 35 minutos.