Quinta,
13.
Terminei
o Journal Intégral (1919-1940) de
Julien Green. Em mês e meio devorei 1400 páginas, mais precisamente 1376 em
corpo 10, papel fino que deixa passar o texto de folha para folha. Pelo esforço
ficaram-me os olhos colados ao volume que termina com o belo texto que havia
lido talvez umas três vezes na versão publicada em vida do escritor, La fin d´un monde. É de todos os tomos o
que tem menos cortes cirúrgicos do diarista. Não vou alinhá-lo na biblioteca de
cima ao lado da obra do grande homem, ficará na mesa em frente à lareira para ir
relendo as muitas páginas anotadas e sublinhadas e trazer a estas páginas
diversas notas que urge (para mim pelo menos) destacar.
- A Piedade apareceu aí com o carrego
de infelicidades em que se transformaram os seus dias depois de o neto se ter
ligado a uma rapariga e em pouco tempo ter nascido o bisneto. Os dramas
familiares que inundam as televisões e são o alimento que as faz engordar,
bateram-lhe à porta. Com oitenta anos não consegue digerir a profunda alteração
por que passa a sua vida e, sendo mulher corajosa, sinto que este drama a vai
fragilizar. “Lembro-me tantas vezes do senhor, como está tão bem só e nunca cá
quis ter ninguém!”, dizia e repetia. Esta é mais uma família que os canais de
televisão atraem para a compra disto e daquilo, porcarias que os levam a incentivar
à compra “em família”.