quinta-feira, fevereiro 13, 2020

Quinta, 13.
Terminei o Journal Intégral (1919-1940) de Julien Green. Em mês e meio devorei 1400 páginas, mais precisamente 1376 em corpo 10, papel fino que deixa passar o texto de folha para folha. Pelo esforço ficaram-me os olhos colados ao volume que termina com o belo texto que havia lido talvez umas três vezes na versão publicada em vida do escritor, La fin d´un monde. É de todos os tomos o que tem menos cortes cirúrgicos do diarista. Não vou alinhá-lo na biblioteca de cima ao lado da obra do grande homem, ficará na mesa em frente à lareira para ir relendo as muitas páginas anotadas e sublinhadas e trazer a estas páginas diversas notas que urge (para mim pelo menos) destacar.

         - A Piedade apareceu aí com o carrego de infelicidades em que se transformaram os seus dias depois de o neto se ter ligado a uma rapariga e em pouco tempo ter nascido o bisneto. Os dramas familiares que inundam as televisões e são o alimento que as faz engordar, bateram-lhe à porta. Com oitenta anos não consegue digerir a profunda alteração por que passa a sua vida e, sendo mulher corajosa, sinto que este drama a vai fragilizar. “Lembro-me tantas vezes do senhor, como está tão bem só e nunca cá quis ter ninguém!”, dizia e repetia. Esta é mais uma família que os canais de televisão atraem para a compra disto e daquilo, porcarias que os levam a incentivar à compra “em família”.

         - A lareira está acesa no salão. Tempo de trevas. Silêncio e paz dentro destes muros. O romance avança sob mil incertezas e hesitações.