segunda-feira, fevereiro 17, 2020

Segunda, 17.
A CGTP elegeu a nova líder que substituiu o brilhante Arménio Carlos à frente da organização.  Assim que Isabel Camarinha (é este o seu nome) subiu ao pódio, levantou o braço, e de punho cerrado acenou aos camaradas que gritaram em uníssono: “CGTP, unidade sindical! CGTP, unidade sindical!” Parecia que estávamos em 24 de Abril de 1974, só faltando acrescentar: “Fascismo nunca mais! 25 de Abril sempre!” Bom. Assim que a senhora começou a falar pegou nos desejos do seu predecessor e lançou o seu programa: “Aumentar os salários em 90 euros para todos os trabalhadores”, porque segundo ela,” só assim se estanca a emigração e se abre perspectivas para os mais novos e garante uma vida condigna a todos”, os presentes sorriram de contentamento e alguns bichanaram: “Temos mulher!”. Quem não pertencer à Central está tramado, como tramada está a maioria dos portugueses com reformas miseráveis. Os sindicalistas preocupam-se consigo mesmos, montados nas suas ideologias partidárias, o resto da sociedade vermes a vegetar nos restos que eles deixam da abundância que reclamam. Os velhos e as crianças ficam, como sempre ficaram, entregues à sua sorte e à esmola dos sucessivos governos.

         - Vai por aí uma ululação desportiva contra si própria. Tudo porque os energúmenos do futebol insultaram um pobre jogador negro da equipa do FCP e, este sendo nobre e honrado, decidiu abandonar o jogo em que participava. A seguir veio o que vem sempre para os lados dos corruptos do futebol que são quem governa o país escondidos atrás dos dirigentes políticos. Há anos que esta malta se apropriou de Portugal, impôs as suas regras, assobia para o lado quando os insultam, ganha terreno à justiça e à razão democrática, fazem o que querem e ainda lhes sobra tempo para meter no Parlamento um da sua igualha. Os epítetos racistas e xenófobos que se ouviram no estádio, são a imagem da sua organização, a voz desimpedida dos que estão a segredar ao ouvido da turba primária e idiota que constitui as claques desportivas.   
 
         - O bem-estar, a riqueza tão almejada que torna os países arrogantes, pode afinal ser tão frágil que um simples vírus a reduz num instante em cacos. É o que se passa com a China e por arrasto o resto do mundo capitalista. São tão fortes, tão fortes, que uma constipação num dos parceiros põe de cama moribundos os restantes.

         - Quando entro na Brasileira, como foi o caso esta manhã, os empregados fazem-me uma festa com direito a cumprimento de mão. “Olha o jovem”, dizem com um sorriso aberto nos seus rostos africanos cheios da nobreza que desapareceu das carantonhas dos ricaços europeus.  


         - 18,33. Acabo de chegar tendo passado no Corte Inglês para comprar o jantar e levantar um livro que havia encomendado. Comprei duas máscaras para levar comigo a Budapeste não vá o diabo tecê-las. Dia neutro. Mesmo assim com uma ponta de alegria levantada do lençol dos dias invernosos. No salão entram auriflamas de sol desmaiadas. Silêncio.