Segunda,
17.
A
CGTP elegeu a nova líder que substituiu o brilhante Arménio Carlos à frente da
organização. Assim que Isabel Camarinha
(é este o seu nome) subiu ao pódio, levantou o braço, e de punho cerrado acenou
aos camaradas que gritaram em uníssono: “CGTP, unidade sindical! CGTP, unidade
sindical!” Parecia que estávamos em 24 de Abril de 1974, só faltando
acrescentar: “Fascismo nunca mais! 25 de Abril sempre!” Bom. Assim que a
senhora começou a falar pegou nos desejos do seu predecessor e lançou o seu
programa: “Aumentar os salários em 90 euros para todos os trabalhadores”,
porque segundo ela,” só assim se estanca a emigração e se abre perspectivas
para os mais novos e garante uma vida condigna a todos”, os presentes sorriram
de contentamento e alguns bichanaram: “Temos mulher!”. Quem não pertencer à Central
está tramado, como tramada está a maioria dos portugueses com reformas
miseráveis. Os sindicalistas preocupam-se consigo mesmos, montados nas suas
ideologias partidárias, o resto da sociedade vermes a vegetar nos restos que
eles deixam da abundância que reclamam. Os velhos e as crianças ficam, como
sempre ficaram, entregues à sua sorte e à esmola dos sucessivos governos.
- Vai por aí uma ululação desportiva
contra si própria. Tudo porque os energúmenos do futebol insultaram um pobre
jogador negro da equipa do FCP e, este sendo nobre e honrado, decidiu abandonar
o jogo em que participava. A seguir veio o que vem sempre para os lados dos corruptos
do futebol que são quem governa o país escondidos atrás dos dirigentes
políticos. Há anos que esta malta se apropriou de Portugal, impôs as suas
regras, assobia para o lado quando os insultam, ganha terreno à justiça e à
razão democrática, fazem o que querem e ainda lhes sobra tempo para meter no
Parlamento um da sua igualha. Os epítetos racistas e xenófobos que se ouviram
no estádio, são a imagem da sua organização, a voz desimpedida dos que estão a
segredar ao ouvido da turba primária e idiota que constitui as claques
desportivas.
- O bem-estar, a riqueza tão almejada
que torna os países arrogantes, pode afinal ser tão frágil que um simples vírus
a reduz num instante em cacos. É o que se passa com a China e por arrasto o
resto do mundo capitalista. São tão fortes, tão fortes, que uma constipação num
dos parceiros põe de cama moribundos os restantes.
- Quando entro na Brasileira, como foi o
caso esta manhã, os empregados fazem-me uma festa com direito a cumprimento de
mão. “Olha o jovem”, dizem com um sorriso aberto nos seus rostos africanos
cheios da nobreza que desapareceu das carantonhas dos ricaços europeus.
- 18,33. Acabo de chegar tendo passado
no Corte Inglês para comprar o jantar e levantar um livro que havia
encomendado. Comprei duas máscaras para levar comigo a Budapeste não vá o diabo
tecê-las. Dia neutro. Mesmo assim com uma ponta de alegria levantada do lençol
dos dias invernosos. No salão entram auriflamas de sol desmaiadas. Silêncio.