Terça, 6.
O professor Marcelo transformou-se numa
espécie de porta-voz das invejas e amarguras do povoléu. Anda tão contente, tão
triunfante como se estivesse em permanência em campanha. Não é que esteja
contra aquela fúria de viver, mas a bolota não joga com a perdigota. Há
qualquer coisa de artificial no seu comportamento e Passos Coelho tem razão em
se insurgir contra o Presidente. Pela simples razão: Marcelo Rebelo de Sousa
assumiu para si a oposição ao Governo e também, sobretudo, o seu incondicional
apoio, não deixando espaço ao líder do PSD. Ele é presidente da República e
primeiro-ministro, ele é comentador e catedrático. Em ambas as situações actua
encostado à popularidade e esforça-se por dizer alto aquilo que o povão bichana
pelos cafés e ruas. Mas aquilo não passa de um faits divers com graça que a turba aprecia sem ter em conta o que
subjaz do seu conteúdo. Por exemplo, ele diz – e bem – que os ordenados dos
gestores da CGD são exagerados, porque sabe que as suas palavras não passam
disso mots, words, parole. Soam bem
ao ouvido das gentes, mas o escândalo é obra do Mágico.
- Outro dia, numa pacata cidade da Finlândia, um homem de 23 anos,
desatou a disparar contra três mulheres que saíam do restaurante onde haviam
estado a jantar, deixando-as mortas por terra. A polícia capturou o rapaz, mas
ninguém sabe que motivos o levaram a praticar tão hediondo crime. Este é mais
um sinal dos tempos. Actos destes multiplicam-se nas grandes cidades. Dá que
pensar.
- Renzi cumpriu a palavra e demitiu-se. A UE apressou-se a dizer que o
resultado do referendo não lhe diz respeito, o povo italiano adora a União
(morde aqui a ver se eu deixo). Na avalanche de problemas ou na sua origem,
estão os bancos sem cheta e dívidas catastróficas. Ainda há poucos anos estavam
sólidos porque eram geridos por famílias tradicionais. Hoje estão como os
nossos, os alemães, os... Eu tenho estima pelo líder democrático e pelo que li
parece razoável aquilo que ele propôs para continuar a governar. A Itália
sempre foi um tormento, um vulcão em efervescência. Todavia, os problemas do
país são os nossos. Está tudo em cacos e só os líderes que pretendem salvar-se,
continuam a falar de um mundo encantado. Entretanto, o palhaço e aquela coisa
chamada Berlusconi, espreitam a presa, perdão, o poder.
- Morreu Hugo Ribeiro. Paz à sua alma. Era um ser humano encantador,
disponível, amigo dos artistas, interventivo, calmo, atento. Na nossa
juventude, quero dizer, na do António Carlos e na minha, sem dinheiro e cheios
de ambições e projectos, fomos pedir-lhe para nos ajudar a gravar um recital de
poesia inteiramente dedicado a Fernando Pessoa e aos seus heterónimos. Recebeu-nos
no estúdio da Valentim de Carvalho, em Paço d´Arcos, onde imperava pleno de rigor e
saber tecnológico. Durante semanas, sem nos pedir um chavo, trabalhou connosco,
paciente e divertido até o final da gravação feita nos processos antigos das
grandes bobinas que ainda hoje conservo religiosamente. Para cúmulo e desgosto
nosso, o espectáculo que estava previsto ser no Estúdio 444, acabou por não se
realizar. Mas julgo que em páginas para trás falei sobre esta aventura.