Quinta, 8.
Ontem ao fim do dia, tomado por desistência
de mim, perturbado por pensamentos aziagos e frouxidão mortal, sem nenhuma
razão aparente a não ser a invasão de sentimentos enervantes em catadupa, lasso
da escrita, sentei-me, abatido, diante da televisão. Que procurava eu sabendo de
antemão que naquele caixote de lixo só colho os dejectos das vanidades, as
pretensões dos ignorantes, as promessas dos banha-de-cobra, a loucura dos
homens em guerras fratricidas? Ligado o aparelho, logo me confrontei com uma
telenovela, repetida noutro canal e depois a conversa fiada das damas da tarde,
dos apresentadores patetas, do público idoso na assistência comandado pelo
maestro de serviço atrás das câmaras de cartaz erguido ordenando “riam, batam
palmas”, tudo muito pindérico, muito familiar, intervalado pelo anúncio idiota
da “famila” Aveiro, despejando cenas grotescas em casa dos espectadores indo o melhor
do filme directamente para os países fiscais, depois o Iglesias em versão
portuguesa com suas canções lameches, serôdias, mais os seus borrachos, o
Iglesias delico-doce e o Iglesias trame-trame, tudo servido por uma dose
consistente de mediocridade e falsos risos larvares e bacocos, sem falar nos
concursos que dão uma imagem degradante do estado miserabilista das famílias,
oferecendo somas arrebanhadas dos telefonemas dos auditórios. Fechado o
aparelho, perguntei-me como pode haver gente que consuma os dias diante de um
tal espectáculo triste e repugnante!
- Estou curioso em conhecer o governo de cowboys que Ronald Trump está a
formar.