quinta-feira, dezembro 15, 2016

Quinta, 15.
Houve uma trégua. Depois, de súbito, quando pensávamos que enfim o país tinha encarcerado os gatunos e entrara num ciclo de honestidade, eis que irrompeu o costumeiro cenário dos que corrompem e dos que se deixam corromper. A célebre Octapharma de triste memória, a mesma que contratou José Sócrates como entendido no negócio, aparece num escândalo de corrupção que atinge o centro nevrálgico da saúde e do poder. São inúmeros os envolvidos no esquema do sangue tratado. Não deve ser alheia a contratação do ex-primeiro-ministro na rede montada para dar dinheiro a ganhar à alcateia de gananciosos. Portugal não merece esta corja de dirigentes que lhe calharam na roda da sorte democrática. Em quem confiar, em quem? Quando me ponho a fazer contas aos que enriqueceram após o 25 de Abril, vejo na prisão mais de metade dos “democratas” que fizeram carreira nos governos e na administração pública pelo interesse de Portugal como costumam dizer, mas de olho no tacho.    


         - Acabo de entrar vindo do lançamento do livro do Guilherme Parente completamente ensopado. O acontecimento foi registado na Galeria S. Mamede, no bairro que foi o meu durante trinta anos. Guilherme, em simultâneo, expõe várias telas recentes de um vigor invulgar para a sua vida de constante e aturado trabalho. A entrevista e notas são de Ana Matos e quanto ao meu labor na correcção e análise do conjunto, prefiro não me pronunciar. Destaco, contudo, o reencontro com muitos dos meus amigos de longa data, os artistas com quem me entendo muito bem (e já agora também com os arquitectos). Trouxe embrulhado no coração, o sorriso de criança do laureado –  isso por si só é a maior riqueza espiritual que um homem pode receber.