Quinta, 15.
Houve uma trégua. Depois, de súbito, quando
pensávamos que enfim o país tinha encarcerado os gatunos e entrara num ciclo de
honestidade, eis que irrompeu o costumeiro cenário dos que corrompem e dos que
se deixam corromper. A célebre Octapharma de triste memória, a mesma que
contratou José Sócrates como entendido no negócio, aparece num escândalo de
corrupção que atinge o centro nevrálgico da saúde e do poder. São inúmeros os
envolvidos no esquema do sangue tratado. Não deve ser alheia a contratação do
ex-primeiro-ministro na rede montada para dar dinheiro a ganhar à alcateia de
gananciosos. Portugal não merece esta corja de dirigentes que lhe calharam na
roda da sorte democrática. Em quem confiar, em quem? Quando me ponho a fazer
contas aos que enriqueceram após o 25 de Abril, vejo na prisão mais de metade
dos “democratas” que fizeram carreira nos governos e na administração pública pelo
interesse de Portugal como costumam dizer, mas de olho no tacho.
- Acabo de entrar vindo do lançamento do livro do Guilherme Parente
completamente ensopado. O acontecimento foi registado na Galeria S. Mamede, no
bairro que foi o meu durante trinta anos. Guilherme, em simultâneo, expõe várias
telas recentes de um vigor invulgar para a sua vida de constante e aturado
trabalho. A entrevista e notas são de Ana Matos e quanto ao meu labor na
correcção e análise do conjunto, prefiro não me pronunciar. Destaco, contudo, o
reencontro com muitos dos meus amigos de longa data, os artistas com quem me
entendo muito bem (e já agora também com os arquitectos). Trouxe embrulhado no
coração, o sorriso de criança do laureado – isso por si só é a maior riqueza espiritual
que um homem pode receber.