terça-feira, dezembro 15, 2015

Terça, 15.
Klaus Mann, o filho do Thomas Mann, infinitamente mais interessante que o burguês do pai, drogado, infeliz, independente, talentoso, inquieto e solitário não obstante os muitos amigos que tinha por toda essa Europa que Hitler submeteu, apresenta-se em Fuir pour vivre na pujança da revolta e do inconformismo, ele e a irmã Erika, os dois filhos desencantados que em primeiro recusaram o nazismo e tudo o que a ele veio associado: guerra, campos de exterminação, liquidação dos que não se subjugaram, suspensão da liberdade, atrofiamento do pensamento, imposição de uma filosofia do ódio, da exclusão, da eliminação dos judeus, criação de uma raça que se pretendia perfeita e bela em desprimor das qualidades e diferenças de cada um, todos feitos por Deus, um a um e não em manada. Desde 1933 que ele pressentiu o desastre e logo se pôs ao servido da inteligência e da cultura, saltando de país em país, fugindo à fúria dos primeiros grupelhos que ombrearam com o louco Fuhrer que iria tomar o poder por um processo ardiloso em que por vezes a democracia cai. Instalado nos EUA, vai trabalhar sem descanso pela denúncia de um regime assassino e pela defesa dos artistas germânicos. Fá-lo utilizando a arma da escrita e depois incorporado no exército americano. Triste e só, frágil e solitário, lutando contra os fantasmas que sempre o rondaram, depois de anos de desintoxicação e sofrimento, entregando-se a amores passageiros, a noites de um vazio insuportável, longe do solo pátrio, com muitos dos seus amigos assassinados pelos nazis, o pai a princípio sem compreender o que para ele era óbvio, é na escrita que se refugia, que encontra a ténue energia que lhe permitiu vencer os anos terríveis da guerra e do obscurantismo. Julien Green que com ele se encontrou várias vezes em Nova Iorque, não se apercebe do drama que enche o corpo delicado de um homem alagado de problemas e inquietações existenciais. Terminada a guerra, de retorno à Europa, uma Europa que ele tem dificuldade em reconhecer, sombrio dos seus eternos e insuportáveis problemas pessoais, não consegue vencer o desespero e suicida-se por overdose num quarto de hotel modesto no sul de França, em Cannes, no dia 21 de Maio de 1949.


         - A segunda volta das eleições francesas foi a prova provada de que a democracia é hoje du n´importe quoi. Nunca imaginei que os franceses, tendo votado maioritariamente na Frente Nacional de Marine Le Pen, fossem vacilar na segunda volta. É certo que o partido de direita obteve apesar dos recuos um score em crescendo, facto que devia preocupar o PS que num golpe de rins sem precedentes obrigou os seus camaradas a desistir em favor dos candidatos do partido de Sarkosy. Uma vergonha! Como foi possível uma coisa destas, numa democracia cimentada há mais de um século, num país de gente livre, que não costuma ceder ao patuá dos políticos, ainda por cima do cariz de François Hollande! Mistério. Uns vira-casacas que vão pagar muito caro a covardia. Mesmo assim, a FN que antes tinha 6 milhões de simpatizantes, subiu para 6,8 no domingo, ficando com 9 mil comunas. O debate que se impõe, faz-se afinal com recuos desta natureza. Lá como cá, os instalados pensam que a cadeira e o poder são eternos. Mas o povo quando esclarecido, espreita a oportunidade de impor a sua vontade. Depois chamem-lhe todos os nomes do léxico antidemocrático habitual.