segunda-feira, dezembro 07, 2015

Segunda, 7.

A família Le Pen saiu das eleições legislativas vencedora. Outra coisa não era de esperar. O dilema há muito que estava instalado em França e todos os meus amigos, na maioria socialistas, e as conversas que tive com desconhecidos, apontavam para uma tremenda indecisão: fora de questão votar Sarkosy, descontentes com Hollande, restava a Frente Nacional que muitos, penso, votaram em lágrimas de raiva. Todavia, se ela alcançou tantos votos, é porque a esquerda por todo o lado se aburguesou e só pensa nos seus interesses mesquinhos e no poder a qualquer preço. E ainda porque essa esquerda de caviar e champanhe, não oferece nada de diferente relativamente à direita. Estão todos a fundar-se no mesmo barco. A corrupção, a riqueza excessiva, o compadrio partidário, a falta de ideias, o divórcio dos princípios, o alheamento das pessoas em favor dos números, a obsessão pelo PIB, o ar cacique com que governam, a distância e desconhecimento da vida prática dos povos, levaram ao impasse que só favorece a vinda de um salvador. De tão bem instalados em mordomias que usufruem à pala do Estado, não percebem que a democracia é tão frágil como a amizade e que, tal como existe na sociedade ilhas de encantamento, também se encontram redutos singulares de revoltados capazes de tudo. O verdadeiro herói sai do fundo macerado pela revolta e o ostracismo.