Segunda, 7.
A família Le Pen saiu das eleições
legislativas vencedora. Outra coisa não era de esperar. O dilema há muito que
estava instalado em França e todos os meus amigos, na maioria socialistas, e as
conversas que tive com desconhecidos, apontavam para uma tremenda indecisão:
fora de questão votar Sarkosy, descontentes com Hollande, restava a Frente
Nacional que muitos, penso, votaram em lágrimas de raiva. Todavia, se ela
alcançou tantos votos, é porque a esquerda por todo o lado se aburguesou e só
pensa nos seus interesses mesquinhos e no poder a qualquer preço. E ainda
porque essa esquerda de caviar e champanhe, não oferece nada de diferente
relativamente à direita. Estão todos a fundar-se no mesmo barco. A corrupção, a
riqueza excessiva, o compadrio partidário, a falta de ideias, o divórcio dos princípios,
o alheamento das pessoas em favor dos números, a obsessão pelo PIB, o ar
cacique com que governam, a distância e desconhecimento da vida prática dos
povos, levaram ao impasse que só favorece a vinda de um salvador. De tão bem
instalados em mordomias que usufruem à pala do Estado, não percebem que a
democracia é tão frágil como a amizade e que, tal como existe na sociedade
ilhas de encantamento, também se encontram redutos singulares de revoltados capazes
de tudo. O verdadeiro herói sai do fundo macerado pela revolta e o ostracismo.