segunda-feira, dezembro 14, 2015

Segunda, 14.
Este fim-de-semana andei por assim dizer cingido de sons celestiais. Sábado, foi o excelso concerto de música sacra na igreja de São Cristóvão, ontem no teatro São Luís. O espantoso na igreja da Mouraria, foi a audição de uma peça encontrada no acervo da própria igreja de S. Cristóvão. Trata-se de um trecho sem autor preciso que faz parte do cantochão da missa do Segundo Domingo do Advento que não percebi se fora a primeira audição. Depois a segunda parte do espectáculo, sendo bela, tratou das canções natalícias do Maneirismo e do Barroco português dos séculos XVI e XVII. Pelo que pude ver, o templo tem sido muito abandonado e os vestígios desagradáveis florescem onde não deviam. Mas o dinamismo do pároco e dos fieis tem feito milagres.
        
         A noite acompanhada de chuva abundante caía sobre a cidade, quando os primeiros acordes da sinfonia Júpiter inundavam o simpático teatro lisboeta. A meio da plateia onde me encontrava, a acústica da sala era perfeita depois dos trabalhos empreendidos. A primeira parte, com Mozart e direcção do maestro Jean-Marc Burfin, foi perfeita. Conheço sobejamente a sinfonia de Mozart para admitir que o trabalho do maestro junto da Orquestra Académica Metropolitana esteve muito equilibrado. Já a segunda parte, onde se juntou o Coro da Universidade Nova de Lisboa, não gostei tanto. Tudo muito entaramelado, formando uma uniformidade sonora repugnante, com aspetos guturais desagradáveis e uma quase inexistente compreensão das peças cantadas em latim que felizmente eu conheço de cor. À saída a Helena e o Werner que vieram também, dividiam-se quanto à minha apreciação, embora me parece-se que ele sendo alemão estava de acordo comigo.

         - Agradável surpresa ao acordar esta manhã – o cuco por entre o ruído ensurdecedor da chuva exibia com galhardia o seu canto. Não me lembro de alguma vez o ter feito nesta altura do ano.   

          - Sábado, vite, vite, porque no dia seguinte havia a segunda volta das eleições legislativas, e era indispensável acelerar o “acordo” quanto ao futuro do Planeta que nos reserva a lucidez dos nossos representantes governamentais. É necessário acentuar de que se trata de “um acordo político” e como tal um monstruoso charabia. A coisa só deve ser concretizada lá para 2022! Ufa! Ufa! Ali, na grande cidade montada para o efeito nos arredores de Paris, o “acordo histórico” não passou de moeda de troca, dito de outro modo de cifrões e montantes que rolaram nas mesas ávidas do aglomerado de países com descuidos directamente para os bolsos de alguns como é de norma. Quanto ao mais quase nada de concreto ficou estabelecido: o mecanismo de monotorização comum não foi definido, quem fiscaliza quem também não e mais de 50 por cento dos países que estiveram no COP21vão ter ainda de ratificar o que todos assinaram. Agora o que parece ter colhido avidamente as esperanças de alguns, foi o que toca directamente às verbas, por exemplo, os países que investirem além fronteiras em projectos ditos limpos, recebem créditos de emissões de CO2, além de poderem fazer uso do seu comércio. Resta aquilo a que foi chamado de sentença de morte aos combustíveis fósseis. Curiosamente não ficou acordado nenhum calendário para a sua exterminação. O mais incrível porém, é o facto de se poder negociar aquilo que se pretende extinguir!... Frágil acordo que me pareceu não ter consciência do mundo real, por si só remete o homem para a catástrofe e as doenças que dizimam já milhões por todo o Planeta.

         - Celui qui sait aprécier la clarté des vastes espaces, c´est celui qui connaît l´enfer. Klaus Mann, Fuir pour vivre, Ed. Autrement, pag. 128.  

         - Não tarda vai chegar um novo controlo da nossa queridíssima e protectora União Europeia: para o euromilhões, as raspadinhas e outras formas de tentar a sorte, à excepção das lotarias, vai ser necessário identificação a quando da compra! Pretendem os pervertidos tecnocratas de Bruxelas deste modo fazer face aos vícios e outros distúrbios mentais como o endividamento, as patologias de risco, que os pobres têm por destino adquirir com a ganância. Obviamente, sob esta lei imposta, está o temor que o infeliz que ganhou uns patacos ao jogo de azar instituído, possa fugir ao fisco.