sexta-feira, dezembro 04, 2015

Sexta, 4.
Embora essa seja a tua vontade, não te separes do mundo, fica atento, vigilante, não descures o espírito crítico e prossegue debitando do púlpito da escrita o que o teu coração não podendo mais te ordena. Lembra-te do que dizia Charles Lamb, segundo o qual “as opiniões são uma forma de propriedade”. Escuta como é teu dever e fizeste ontem longamente em conversa com a Zitó e o Couto, ambos socialistas de gema, ambos travados de feição para reconhecer num delírio idílico o óbvio em desprimor do que se esconde e derrama na napa freática de um mundo que quase não estrugiu e quando o fez foi para se manter igual ao que sempre foi. Só o solitário, o que vive afastado dentro de muros onde a cidade se ergue e se perde e se espraie pode afrontar o que escapa à maioria. O olhar do solitário abrange não só o desespero, como os entusiasmos passageiros, as sublimes tentativas dos que se alcandoram com método e persistência, servindo-se dos ingénuos, proclamando justiça e ordem, mas travados mais abaixo, no lugar onde as conveniências não conhecem amarras, prontos a destruir a polis e a honra dos cidadãos que nela vivem. Não temas pensar pela tua própria cabeça e se essa independência te isolar ainda mais, então podes ter a certeza que és tu que mais te aproximas da verdade.

         - Queres um exemplo? Finca-te na memória, não só a tua como a colectiva. E lembra-te quantas vezes ao longo destes quarenta anos de democracia à portuguesa, ouviste dizer ao partido que chega ao poder que o que sai deixou de rastos as finanças e que assim não é possível alcançar a meta do défice exigido pela UE. Faz isto algum sentido? É isto uma actividade credível? É possível acreditar nestas pessoas? Tem consistência e futuro um país governado por esta gente? Diz-me.

         - Mais um horrível massacre nos E.U.A. exactamente na cidade de San Bernardino, Califórnia. Um casal, ela paquistanesa, ele americano, entraram numa instituição para deficientes vestidos com uniformes militares e, empunhando armas de guerra, disparam sobre tudo o que encontraram na frente. O saldo final cifrou-se em 14 mortos e 21 feridos. Não se conhece o móbil do crime. A polícia pensa tratar-se de mais um atentado terrorista. O mundo pela banalização da morte, já não se espanta. Amanhã é outro dia.


         - Um pequeno nada por onde a felicidade desemboca. Esta manhã enchi uma tijela de morangos deliciosos. A fábrica promete mais na forma de minúsculos frutos do tamanho de uma azeitona. Aleluia!