quarta-feira, dezembro 23, 2015

Quarta, 23.

Mais um crime horrendo praticado nos nossos hospitais, desta vez no de S. José, em Lisboa. Um rapaz de vinte e nove anos morreu porque teve o azar de fazer uma ruptura do aneurisma ao fim-de-semana. O hospital de Santarém onde entrara de urgência, reenviou-o para o S. José e aí morreu, segunda-feira, pela simples e caricata razão de não haver neurocirurgiões de servido ao sábado e ao domingo. Como é possível! Dizem os três médicos responsáveis pelos serviços hospitalares que se demitiram em consequência, que esta morte foi devida aos cortes na saúde, à falta de dinheiro para pagar horas suplementares aos médicos. Pagar horas suplementares! Eu diria antes: pagar horas extraordinárias a funcionários públicos. Porque é nisso que estão a transformar os quadros técnicos de saúde. Não são médicos, enfermeiros, auxiliares, são mangas de alpaca, vigilantes, contabilistas, mulheres-a-dias que não dispensam o fim-de-semana em família ou a borga das noites no Cais do Sodré. Se, entretanto, morrer alguém que se lixe, eles têm direito como qualquer outro trabalhador a ser pago a dobrar ou quadruplicar. Não se trata, portanto, de falta de salário, eles que auferem para um país pobre quase tanto como os meus amigos clínicos em França. Mais: se para esta gente  (não quero generalizar) o problema é a diferença salarial entre o Estado e o privado, que desapareçam para os hospitais onde o lucro é que interessa e o doente um filão a explorar até à ultima gota de sangue. Aí são capazes de ganhar mais uns patacos. Mas nessa altura esqueçam os filhinhos queridos e o lazer, a sua própria saúde e a deontologia profissional. São espremidos até ao tutano e o dinheiro que ganham de nada serve porque simplesmente não têm tempo para o gastar. Conheço n casos.