Quarta, 9.
Ouvi com atenção distraída a entrevista
do arcebispo Marcelo à SIC. O homem não despega do comentador político. Todo o
seu discurso é feito de ideias serpentes, de claros-escuros, de avanços e
recuos. Vivo, inteligente e cínico, tudo nele move-se num phatos intuitivo que foi construído ao longo de muitos anos de
analista político. Pessoalmente, como aqui venho dizendo, não aprecio os
“bonecos televisivos” sejam eles políticos, comentadores, politólogos, aristas
ou escritores. Por isso, não irei votar nele.
- Lionel com quem passei uma semana simpática em Estrasburgo Outubro
passado, mandou-me uma série impressionante de fotografias que historiam Colmar
como só os seus olhos habituados a espreitar o corpo humano podem observar. Ao
rememorar a beleza das fachadas, das pequenas ruas que contornam o centro da
cidade, recordo o que as fotos não traduzem: os momentos de espanto ante a
beleza que séculos não destruíram, os segredos que ouvi contar às pedras
centenárias, o rumor das águas que dividem e aproximam os habitantes, o chá que
tomámos ao fim da tarde numa brasserie aninhada
entre dois muros, a luz que trouxe outro mundo quando a noite se instalou, as
palavras alinhadas à pressa no meu bloco de notas, os passos meditativos ante
tudo o que me chegava das longínquas noites imemoriais, ali desaguadas, intactas,
a coberto da bruma compacta do tempo.