Sábado, 26.
Ainda a morte do jovem David Duarte
abandonado no hospital de S. José. Leio tudo o que se escreve sobre o assunto e
do muito que me passa pelos olhos, não li que um só governante, um só clínico,
um só administrador hospitalar tivesse pedido desculpas aos familiares ou
simplesmente apresentasse condolências. É o desprezo total. Mais: só o actual
ministro da Saúde, tem tido um discurso equilibrado e não cedeu às demagogias.
Tudo o resto, está na cara, pretendem culpar o anterior titular da pasta e,
sobretudo, escapar às suas responsabilidades. O dinheiro continua a
preocupá-los, pois é só disso que falam. Esquecem-se que na Alemanha o
preço/hora extraordinário dos serviços hospitalares é quase o mesmo que em
Portugal. No final a culpa vai morrer solteira – estamos em Portugal, não é
verdade. Voltámos ao tempo dos barões da medicina.
- O Público diz que “quase metade dos futuros psiquiatras tem ideias
suicidas”. Pois. É por isso que são psiquiatras e muitos deles charlatães.
- Segundo os mais recentes números, pelo menos um milhão de refugiados
alcançou a Europa e mais de três mil morreram no mar. O problema não está
resolvido e todos os dias chegam às centenas de todo o lado. Há dias quase uma
centena faleceu em botes improvisados. Por aqui e por ali, instala-se a revolta
na forma de ódios raciais. Não quero imaginar o que seria hoje uma guerra à
escala mundial.
- Aqui, neste oásis de serenidade e silêncio, o campo oferece-se forrado
de um verde luminoso. É um regalo olhá-lo da janela onde todas as manhãs
trabalho e onde o brilho do sol se rebola sorridente no tapete vegetal. As
árvores, despedias dos agasalhos que dariam jeito nesta altura do ano, são
esqueletos acastanhados que esperam a Primavera com orgulho heroico. Estão mais
rijas, mais sólidas de verticalidade, e quando o vento lhes bate, mantêm-se
hirtas de olhos postos no céu de um azul claro. Ainda não vieram as primeiras
camadas de gelo para cobrirem o chão de um alvo pelúcido. Forrado de erva
rasteira, não deixa ver as pegadas dos coelhos que se divertem quando o sol
aquece. Todos estes seres dormem, parecem mortos na imóvel melancolia que se
espraie sobre a superfície onde eu queimei os ramos da velha palmeira, as podas
dos arbustos. O fogo é o único elemento que vive da efemeridade.
- Fiquei agradavelmente tranquilo com a original mensagem de Natal do
primeiro-ministro. Ufa!