quinta-feira, dezembro 24, 2015

Quinta, 24.

Não devemos calar-nos. Ante os crimes praticados por médicos no hospital de São José que, sabemos hoje, não se ficaram apenas pelo jovem de Santarém, mas levaram deste mundo mais quatro infelizes em ocasiões diferentes, sempre pelas mesmas razões: os assassinos trocaram uma vida pelos seus magníficos fins-de-semana. Quanto ao hospital, eu que o frequento em consultas de rotina há três anos e já aqui falei dele, tenho a impressão de ser dos piores em organização e planeamento. Não é só a estrutura arquitectónica que mete medo, é sobretudo o modo como os doentes são recebidos, diria atirados para corredores e salas desconfortáveis, uns sobre os outros, gritaria em redor, desconforto e vontade de fugir, pessoal impreparado do tipo funcionário público, verdadeiro atentado ao Serviço Nacional de Saúde que eu tanto prezo. A provar isto, acresce que não se compreende porque não transferiram o doente para outra unidade hospitalar ou ante a urgência de salvar uma vida, não chamaram os médicos folgazões obrigando-os se preciso fosse. Desdém ou laxismo? Uma palavra ainda aos médicos para quem o dinheiro é mais importante que os doentes e uma profissão nobre, cara à humanidade, à solidariedade e à compaixão. Desapareçam dos hospitais públicos, entreguem-se ao negócio de vidas humanas noutros sítios onde vos escravizam e, inclusivamente, onde deixais de ser médicos e passais a ser uma empresa em nome individual, num esquema onde o lucro das multinacionais vos toma não pela vossa competência e dignidade, mas por um qualquer espécime sem importância nenhuma ou como um simples parafuso numa engrenagem de alta exploração do sofrimento humano.