Quinta, 24.
Não devemos calar-nos. Ante os crimes
praticados por médicos no hospital de São José que, sabemos hoje, não se
ficaram apenas pelo jovem de Santarém, mas levaram deste mundo mais quatro infelizes
em ocasiões diferentes, sempre pelas mesmas razões: os assassinos trocaram uma
vida pelos seus magníficos fins-de-semana. Quanto ao hospital, eu que o
frequento em consultas de rotina há três anos e já aqui falei dele, tenho a
impressão de ser dos piores em organização e planeamento. Não é só a estrutura
arquitectónica que mete medo, é sobretudo o modo como os doentes são recebidos,
diria atirados para corredores e salas desconfortáveis, uns sobre os outros,
gritaria em redor, desconforto e vontade de fugir, pessoal impreparado do tipo
funcionário público, verdadeiro atentado ao Serviço Nacional de Saúde que eu
tanto prezo. A provar isto, acresce que não se compreende porque não
transferiram o doente para outra unidade hospitalar ou ante a urgência de
salvar uma vida, não chamaram os médicos folgazões obrigando-os se preciso
fosse. Desdém ou laxismo? Uma palavra ainda aos médicos para quem o dinheiro é
mais importante que os doentes e uma profissão nobre, cara à humanidade, à
solidariedade e à compaixão. Desapareçam dos hospitais públicos, entreguem-se
ao negócio de vidas humanas noutros sítios onde vos escravizam e,
inclusivamente, onde deixais de ser médicos e passais a ser uma empresa em nome
individual, num esquema onde o lucro das multinacionais vos toma não pela vossa
competência e dignidade, mas por um qualquer espécime sem importância nenhuma
ou como um simples parafuso numa engrenagem de alta exploração do sofrimento humano.