quarta-feira, dezembro 02, 2015

Quarta, 2 de Dezembro.
Em Paris eles eram objecto de muitas horas a vasculhar nas livrarias de Saint-Germain como nas boutiques ao longo do Sena. A crise que por lá se disfarça, trouxe diversas formas de os conseguir a preços mais vantajosos. Acresce que as bibliotecas privadas onde eles deixaram de interessar para dar lugar a outros mais recentes, os seus donos tomaram o hábito de os enfiar em sacos e depositá-los à entrada dos edifícios que Haussmann construiu, formando assim outros espaços de procura por parte dos verdadeiros leitores que nunca os abandonariam na rua à mercê de quem deles se acerca com fins menos nobres. Chez Gilbert é quem melhor paga pelos livros que as pessoas por necessidade ou para ganhar área em casa, os vendem. Se não estou em erro, às quintas-feiras, a fila de vendedores chega a ter muitos metros e várias horas de espera. Vi mulheres e homens, rapazes e raparigas de todas as camadas sociais, com enormes mochilas carregadas deles. A Carole contou-me que uma vez ganhou uma pequena fortuna desembaraçando-se de uns quantos in-fólios técnicos e romances. O dinheiro que recebeu, gastou-o a adquirir novos livros, outros autores. Seja como for, os franceses continuam verdadeiros amantes de livros. Compram-nos e lêem-nos, ao contrário do que por lá se diz. Quando os comparo com os portugueses que preferem a boa comida, o futebol, os torresmos e o tintol (poderá parecer um estereótipo, mas não é!), os parisienses andam sempre com um livro no bolso. Se vivesse em Paris, seria um mendigo devido ao impulso que sinto com tudo o que gostaria de conhecer, devorar, estudar.


         - Quando cheguei depois de dois meses de ausência, durante os quais a Piedade procedeu à limpeza pormenorizada do interior, senti um bate ao entrar em casa. O odor a livros orientava-me para o salão onde empilhei sobre uma mesa a dúzia de títulos que trouxe comigo. Ontem iniciei a leitura de Fuir pour vivre dos irmãos Mann e o Journal du séducteur de Soren Kierkegaard. Não contente, esta semana em Lisboa, comprei a última obra de Mário Cláudio Astronomia e um fac-simile do romance de Aquilino Quando os Lobos Uivam. Não direi que sou um comprador compulsivo, mas o desejo e a curiosidade leva-me por vezes a gastar o que não tenho. Em tempos uma amiga que deixou de ser, dizia-me assiduamente: “Você não tem dinheiro para nada, mas para livros ele aparece sempre.” E tinha razão.