Sexta, 13.
Os políticos que dizem as estatísticas
são os mais poderosos do mundo – Markel
e Obama – andam tão contentes com o diálogo de surdos que Hollande e a
chanceler travaram com Putin a propósito do cessar fogo na Ucrânia. Terão eles
razão para tanta esperança? Não me parece. É um facto que uns quantos papéis
foram assinados e a tragédia com os seus mais de cinco mil mortos, como
qualquer acontecimento mediático, suspende actividades este fim-de-semana. E
depois?
- Morreram mais 300 imigrantes deixados à deriva numa jangada no
Mediterrâneo. O Mare Nostrum que
noutros tempos foi esteira de desenvolvimento dos povos do sul, é hoje o
cemitério dos pobres indigentes que ninguém quer e todos mais ou menos
discretamente desejam desapareçam.
- Neste mundo de caça ao consumo, existem dias para celebrar tudo. Hoje
parece que é o dia dos namorados. As estatísticas dizem que na faixa etária dos
18 aos 25 anos, 41 por cento dos queixosos diz ter sido vítima de agressões por
parte dos companheiros ou companheiras. Por outro lado, na área dos casados,
todos os dias, conhecemos casos de mortes e agressões gravíssimas. Enquanto
isto, toda a gente por conveniência, continua a afirmar que a instituição
família é o lugar de santificação da sociedade. Portugal, dá-me para dizer, é o
lugar onde o faz-de-conta é glorificado. A verdade é porém outra: o mundo tem
avançado com os seres que escolheram a solidão e um homem isolado vale por
milhares organizados na mentira.
- Ontem à tarde, quando atravessava a Baixa junto aos Restauradores,
detive-me a presenciar a astúcia de um mendigo, a fantástica organização posta no
arranjo do seu leito no vão de um prédio, um ninho, um casulo para se alhear da
hipocrisia e da indiferença de uma sociedade apressada para o suicídio colectivo.
Cada indigente a viver naquela situação, é uma bofetada na democracia e no tão
querido progresso propagandeado pelos políticos.