sexta-feira, fevereiro 13, 2015

Sexta, 13.
Os políticos que dizem as estatísticas são os mais poderosos do mundo –  Markel e Obama – andam tão contentes com o diálogo de surdos que Hollande e a chanceler travaram com Putin a propósito do cessar fogo na Ucrânia. Terão eles razão para tanta esperança? Não me parece. É um facto que uns quantos papéis foram assinados e a tragédia com os seus mais de cinco mil mortos, como qualquer acontecimento mediático, suspende actividades este fim-de-semana. E depois?

         - Morreram mais 300 imigrantes deixados à deriva numa jangada no Mediterrâneo. O Mare Nostrum que noutros tempos foi esteira de desenvolvimento dos povos do sul, é hoje o cemitério dos pobres indigentes que ninguém quer e todos mais ou menos discretamente desejam desapareçam.

         - Neste mundo de caça ao consumo, existem dias para celebrar tudo. Hoje parece que é o dia dos namorados. As estatísticas dizem que na faixa etária dos 18 aos 25 anos, 41 por cento dos queixosos diz ter sido vítima de agressões por parte dos companheiros ou companheiras. Por outro lado, na área dos casados, todos os dias, conhecemos casos de mortes e agressões gravíssimas. Enquanto isto, toda a gente por conveniência, continua a afirmar que a instituição família é o lugar de santificação da sociedade. Portugal, dá-me para dizer, é o lugar onde o faz-de-conta é glorificado. A verdade é porém outra: o mundo tem avançado com os seres que escolheram a solidão e um homem isolado vale por milhares organizados na mentira.  


         - Ontem à tarde, quando atravessava a Baixa junto aos Restauradores, detive-me a presenciar a astúcia de um mendigo, a fantástica organização posta no arranjo do seu leito no vão de um prédio, um ninho, um casulo para se alhear da hipocrisia e da indiferença de uma sociedade apressada para o suicídio colectivo. Cada indigente a viver naquela situação, é uma bofetada na democracia e no tão querido progresso propagandeado pelos políticos.