Segunda, 2.
O jornal I, outro dia, trazia esta afirmação de António Barreto. Dizia o
ilustre sociólogo: Gostaria de ver
algumas pessoas presas. Alguns banqueiros, empresários, administradores de empresas,
ex-ministros, ex-secretários de Estado, eis-directores-gerais. Gostaria de os
ver presos. Toda essa tropa-fandanga. Só não cita nenhum nome.
- Ocorre-me, a propósito, transcrever estas palavras de Johnson à
Boswell citadas por Green num dos seus Diários: Nobody but a fool would write for anything but money. Não quero
dizer que António Barreto seja imbecil, digo que seria preferível que ficasse
calado.
- Neva
em França, Suíça, e Nova Iorque. A neve atinge mais de um metro em muitas
localidades deixando a vida suspensa do seu manto imaculado. Nos Alpes
franceses morreram várias pessoas. O Rui ontem de Manchester contava-me que se
deslocava na rua de canadianas com medo de cair. Não tem quarenta anos. A pobre
Laure há duas semanas tombou em Paris e partiu a anca. Ensaia já os primeiros
passos pós-operatório. Também ainda não chegou aos cinquenta. Isto para dizer
que o gelo nos países frios é tão terrível como o mar nos países quentes. Eu
sonho com a neve e nada mais me faria feliz que vê-la cair como tantas vezes a
vi descer das alturas atapetando as ruas de beleza e espuma alva. Aqui o que
hoje houve foi vento. Um vento frio, murmurante, acompanhado de aguaceiros.
Depois do almoço li sentado diante da lareira acesa. Fechado o livro, sem
despegar os olhos do fogo crepitante, parti à conversa com as minhas
personagens e ao fim da tarde prossegui o trabalho no computador. Está-se bem
assim, enrolado num mundo de delírio e muito humor que é a forma como os meus
comparsas desta vez se exprimem.