Domingo, 8.
Começa a ser cada vez mais claro que os
anafados barões da União Europeia vão barrar todas as pretensões do Governo de
Tsipras. Depois do périplo que o primeiro-ministro e o ministro das Finanças
fizeram pelas catedrais do euro, nada saiu que desse esperança aos gregos. Grudados
no esquema que montaram para todos os infelizes que lhe batam à porta a
implorar ajuda, mesmo que o esquema tenha arruinado povos e sistemas sociais
que levaram um século a construir, as grandes cabeças dos economistas
agoireiros, não despegam dos seus planos que têm tanto de pérfido como de
perversão. No fundo, do que eles têm medo é da juventude não arregimentada em
conluios e corrupção, temem que as ideias económicas dos gregos sejam o
contraponto à austeridade, permitam o desenvolvimento sem pôr na miséria
milhares e milhares de pessoas. Enfim, venham a ser a prova que se pode crescer
sem abafar a dignidade dos seres humanos. A Europa dos Andreotis, dos Craxis,
dos Berlusconis, dos Forlanis, dos Sarcosys, dos Juppés, dos Kohls, dos Chiracs,
dos Sanaders, dos Papandreous, dos Sócrates, dos Barrosos e passo são tantos os
acusados de corrupção ou associados a ela que seria fastidioso emporcalhar estas
páginas com os seus nomes.
- Esta manhã quando peguei no carro, o termómetro registava três graus
negativos. O campo em volta era uma espessa capa alva de gelo que tive de raspar
dos vidros para poder conduzir em segurança. A geada caiu forte toda a noite
porque, não obstante a viatura se encontrar protegida por uma grande copa de
árvore, não deixou de oferecer o espectáculo próximo de um lugar de montanha. Tudo
foi porém colmatado quando o sol destapou o manto encorpado de gelo e inundou a
terra de um brilho quente que saboreei lá fora lendo e admirando o campo mais
nítido e mais próximo de um conto de fadas.
- A senhora Merkel e o senhor Hollande, pobres coitados perdidos numa
Europa à deriva, estiveram a falatar entre si e depois foram a Moscovo
encontrar-se com Putin. Parece que vieram de lá de cabeça baixa e a prometer
pelo telefone directamente dos seus países alcançar aquilo que frente a frente
não almejaram. Tudo isto poderia ser cómico se não tivesse ulteriormente um
drama imenso, que os dois contendores ucranianos transformaram no início provável
de mais um confronto mundial em território europeu.