Quinta, 26.
Detenhamo-nos um pouco mais na inquietante
exposição patente no Museu da História Natural e da Ciência que ontem visitei in extremis. Quando me indignei com a
corporalização da mesma, referia-me à pobreza da apresentação dos elementos que
a compõem - mal iluminados, pouca informação, pouco relevo -, relativamente ao
catálogo que é sublimemente bem estruturado e com excelentes textos que
suplantam aquilo que nos é dado ver in
loco. Devo, contudo, afirmar que ela, a exposição, é fruto provavelmente de
um conjunto de carolas como se dizia no meu tempo de Coimbra, que se empenharam
com entusiasmo na sua montagem e divulgação. Reparem. Depois de ter pago a
entrada, subo ao primeiro andar onde o acontecimento tem lugar. Aí chegado não
vejo ninguém, nem indicações, nem o mais ínfimo sopro do piolho que lhe serve
de arauto concepcional. Encontro por ali um operário que não percebe o que
procuro eu. Sigo por um longo corredor ao fundo do qual está uma mulher de meia
idade sentada num banco a ler. É ela que se desloca em busca de alguém que me
diga onde está o que me chamou ali. Surge, com efeito, algum tempo depois uma
rapariga simpática e elegante que me diz que devo falar na entrada “porque a
exposição está fechada”. Refilo – nós portugueses temos sempre de refilar para
conseguirmos alguma coisa, é sina nossa -, barafusto que não vou voltar a
descer aquela escadaria enorme “porque foi da bilheteira que me mandaram
subir”. A mulher parece atarantada. Digo-lhe: “esclareça-me ao menos onde se
situa a exposição. - É neste andar, do outro lado ao fundo. Mas creio que não
funciona porque não temos pessoal. – Desculpe, paguei bilhete, vim de propósito
e agora não saio daqui enquanto não vir o que me interessa conhecer.” A
rapariga, engoliu a minha resposta, e diz-me que vai tentar encontrar a chave
da porta, que espere eu ali um bocado. Foi tanta a espera, que avancei até ao
fundo do longo corredor onde está a mulher a ler, sento-me a seu lado, e como
felizmente me desloco sempre com um livro, abri a história das conquistas de Alexandre
o Grande e prossegui na leitura. Lidas e anotadas não sei quantas páginas, eis
que a rapariga aparece com as chaves. Sou eu que abro então a porta, mas com a
condição de depois voltar a fechá-la. Se conto esta minha odisseia, é para
dizer do estado em que está o país que os políticos dizem não ter sido
humilhado. Quando a cultura é tratada deste modo, é toda a estrutura social e
humana que é afectada. Escusado dizer que durante a hora que passei a ver
instrumentos vários que ilustram a ideia dos criadores da exposição através dos
tempos, não se aproximou nenhum outro visitante não obstante o tema ser de
importância capital. Bem sei que para esta casta de líderes saídos na farinha
Amparo é mais fácil e perceptível saber que dois mais dois são quatro, ou antes
que dois milhões a multiplicar por dois são... faça o leitor as contas que eu
nunca fui bom em números).
Vista ampliada de um piolho |
- Nós os portugueses do petit pays,
de mão estendida à mendicidade euro-arrogante, temos de gemer para cumprir
as ordens ditatoriais dos grandes do euro, mas a França, sendo o segundo dos
maiores, foi dada a permissão de mais dois anos para cumprir os famigerados 3
por cento do défice. É por esta e muitas outras que eu há muito advogo a saída
de Portugal do euro.
- Não me parece que haja outra alternativa. Basta como se vê com a
Grécia, que um povo vote na esquerda para logo ser encurralado de um modo tal
que não lhe reste outra saída. Quem se segue no caminho da desintegração da
União Europeia? Espanha? Itália? França?
- Dois polícias foram colhidos por comboio em Sacavém quando perseguiam
dois meliantes. Ambos morreram, mas os gatunos escaparam. Um tinha 23 anos, o
outro 26 anos. Grande consternação na corporação e nas pessoas.
- Basta de desgraças. O mundo não está habitável. Não é preciso ser-se
muito inteligente para se perceber o que nos espera à escala mundial. Eu,
porém, vou colher urtigas e fazer com elas uns hambúrgueres para o almoço. Se
não acreditam experimentem. É fácil. Apanhem urtigas selvagens frescas, piquem
as folhas bem bicadas, cozam duas batatas e noutro tacho as urtigas, amassem
tudo e formem pequenas bolas, passem-nas por pão ralado e fritem-nas numa
frigideira com um pouco de azeite. São ricas em vitaminas B, C e K; em minerais
como o magnésio e ferro, entre muitos outros elementos como os aminoácidos e
proteínas. A factura da receita segue depois.