quinta-feira, fevereiro 26, 2015

Quinta, 26.
Detenhamo-nos um pouco mais na inquietante exposição patente no Museu da História Natural e da Ciência que ontem visitei in extremis. Quando me indignei com a corporalização da mesma, referia-me à pobreza da apresentação dos elementos que a compõem - mal iluminados, pouca informação, pouco relevo -, relativamente ao catálogo que é sublimemente bem estruturado e com excelentes textos que suplantam aquilo que nos é dado ver in loco. Devo, contudo, afirmar que ela, a exposição, é fruto provavelmente de um conjunto de carolas como se dizia no meu tempo de Coimbra, que se empenharam com entusiasmo na sua montagem e divulgação. Reparem. Depois de ter pago a entrada, subo ao primeiro andar onde o acontecimento tem lugar. Aí chegado não vejo ninguém, nem indicações, nem o mais ínfimo sopro do piolho que lhe serve de arauto concepcional. Encontro por ali um operário que não percebe o que procuro eu. Sigo por um longo corredor ao fundo do qual está uma mulher de meia idade sentada num banco a ler. É ela que se desloca em busca de alguém que me diga onde está o que me chamou ali. Surge, com efeito, algum tempo depois uma rapariga simpática e elegante que me diz que devo falar na entrada “porque a exposição está fechada”. Refilo – nós portugueses temos sempre de refilar para conseguirmos alguma coisa, é sina nossa -, barafusto que não vou voltar a descer aquela escadaria enorme “porque foi da bilheteira que me mandaram subir”. A mulher parece atarantada. Digo-lhe: “esclareça-me ao menos onde se situa a exposição. - É neste andar, do outro lado ao fundo. Mas creio que não funciona porque não temos pessoal. – Desculpe, paguei bilhete, vim de propósito e agora não saio daqui enquanto não vir o que me interessa conhecer.” A rapariga, engoliu a minha resposta, e diz-me que vai tentar encontrar a chave da porta, que espere eu ali um bocado. Foi tanta a espera, que avancei até ao fundo do longo corredor onde está a mulher a ler, sento-me a seu lado, e como felizmente me desloco sempre com um livro, abri a história das conquistas de Alexandre o Grande e prossegui na leitura. Lidas e anotadas não sei quantas páginas, eis que a rapariga aparece com as chaves. Sou eu que abro então a porta, mas com a condição de depois voltar a fechá-la. Se conto esta minha odisseia, é para dizer do estado em que está o país que os políticos dizem não ter sido humilhado. Quando a cultura é tratada deste modo, é toda a estrutura social e humana que é afectada. Escusado dizer que durante a hora que passei a ver instrumentos vários que ilustram a ideia dos criadores da exposição através dos tempos, não se aproximou nenhum outro visitante não obstante o tema ser de importância capital. Bem sei que para esta casta de líderes saídos na farinha Amparo é mais fácil e perceptível saber que dois mais dois são quatro, ou antes que dois milhões a multiplicar por dois são... faça o leitor as contas que eu nunca fui bom em números).

Vista ampliada de um piolho


         - Nós os portugueses do petit pays, de mão estendida à mendicidade euro-arrogante, temos de gemer para cumprir as ordens ditatoriais dos grandes do euro, mas a França, sendo o segundo dos maiores, foi dada a permissão de mais dois anos para cumprir os famigerados 3 por cento do défice. É por esta e muitas outras que eu há muito advogo a saída de Portugal do euro.

         - Não me parece que haja outra alternativa. Basta como se vê com a Grécia, que um povo vote na esquerda para logo ser encurralado de um modo tal que não lhe reste outra saída. Quem se segue no caminho da desintegração da União Europeia? Espanha? Itália? França?

         - Dois polícias foram colhidos por comboio em Sacavém quando perseguiam dois meliantes. Ambos morreram, mas os gatunos escaparam. Um tinha 23 anos, o outro 26 anos. Grande consternação na corporação e nas pessoas.


         - Basta de desgraças. O mundo não está habitável. Não é preciso ser-se muito inteligente para se perceber o que nos espera à escala mundial. Eu, porém, vou colher urtigas e fazer com elas uns hambúrgueres para o almoço. Se não acreditam experimentem. É fácil. Apanhem urtigas selvagens frescas, piquem as folhas bem bicadas, cozam duas batatas e noutro tacho as urtigas, amassem tudo e formem pequenas bolas, passem-nas por pão ralado e fritem-nas numa frigideira com um pouco de azeite. São ricas em vitaminas B, C e K; em minerais como o magnésio e ferro, entre muitos outros elementos como os aminoácidos e proteínas. A factura da receita segue depois.