terça-feira, julho 19, 2022

Terça, 19.

Alice: “Desde que os bombeiros voluntários passaram a profissionais, aumentaram os incêndios.”

         - Uma ceifeira de junco ao Público: “Trabalhei tanto, tanto, tanto e nunca tive nada... Tenho três vacas e tinha as cestas.” 

         - Para Santo Agostinho o tempo estava ligado à eclosão do Universo, para Jean d´Ormesson o tempo é “l´avenir, plongé dans l´ombre, l´étrange prèsent toujours en fuite, le passé dévorant, et qui coulerait comme un long fleuve emportant tout sur son parcours – ce temps-là n´existe pas” acrescenta o escritor.   

         - Estou no fim do romance de Francisco José Viegas, Um Céu Demasiado Azul. As peripécias do inspector Jaime Ramos prosseguem, mas desta vez numa escrita dura, cheia de impropérios obscenos, o sexo estendido sem piedade nas suas páginas, a par de prosa poética, que nos faz cócegas, e quase apaga o que de indecente o autor nos livra. Há uma maestria na forma como ele lida com o material ficcional, sem nunca perder a envolvência social e política nem condescender com as personagens que trata com distância e altivez, no traço de nenhum outro romancista do género. Apesar de tudo, prefiro o outro livro que li dele o ano passado, A Luz de Pequim. Trata-se de uma obra mais consistente, bem elaborada, que prende o leitor e o arrasta para o destino das personagens de recorte detalhado, humano e sólido. Continuo, todavia, a achar que em FJV o material criminal apenas serve ao autor para traçar em linhas fortes e seguras o panorama social e político, psicológico e partidário do país que é Portugal. (Como em Vergílio Ferreira o romance servia para desenvolver o ensaio.) Há uma realidade que sob a forma de ficção se impõe, penetra, revolta e desengana quem acredita que somos um país evoluído e politicamente de relevo. A nossa pelintrice, saloiice, inveja, arrogância tergiverse por entre as personagens que ainda hoje imperam na sua característica salazarista embora se digam de esquerda e guardiães da liberdade.  

         - Dito isto, ainda bem que o autor é editor. Na sua posição é-lhe permitido o uso de linguagem e situações que a mim me recusam, com o argumento de que o tema não cabe na linha editorial... Mas se eu estiver disposto a pagar a edição, então sou o maior e o mais talentoso dos escritores portugueses.