sábado, julho 16, 2022

Sábado, 16.

Os grandes jornalistas que o momento possui, parece que descobriram, enfim, o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro. Há muito que eu o vou observando e desde logo o trouxe a estas páginas. A sua acção de informação e actuação nos incêndios que arrasaram meio Portugal, tem sido essencial para dominar ímpetos, pôr no seu lugar egos e dar garantias de honestidade aos profissionais que combatem os fogos. Deus queira que não se deixe corromper pela política; e a proximidade a Costa não destrua nele o exercício livre e competente, ao serviço da nação e dos cidadãos. Num executivo medíocre, ele destaca-se com distância dos seus análogos.    

         - Temperaturas em todo o país entre 40 e 48 graus centígrados. Palmela perdeu o encanto, é agora um local de negrume, encimado pelo seu castelo onde a tristeza se instalou por muitos e largos anos. As pessoas aqui são amargas, sofrem de inferioridade, têm pouca instrução e educação ainda menos, gostam pouco de trabalhar e quase nunca dizem “bom dia”, “boa tarde”, “obrigado”, salvo as criaturas simples, povo autêntico, que trabalha a terra e com ela se irmana num verdadeiro louvor à vida. 

         - A propósito, não imaginava que tivesse tantos amigos. Os telefonemas (para o fixo e telemóvel) não param inquietos com os incêndios que devastaram a vila. O Couto com quem desabafei a surpresa, diz-me que não devo menosprezar os meus amigos – e tem razão. Não os  desconsidero. Acontece que sou um solitário que aprendeu, justamente, a dar grande importância à amizade e daí esta relação tímida e reservada com os outros. Não é arrogância - oh, não! -, é levar uma existência que julgo os outros não compreendem precisamente porque escolheram outra diferente da minha. Talvez Marcelo Rebelo de Sousa me compreenda. Ou o João Corregedor que ontem no almoço que fizemos na Adega da Mó, falando da festa de aniversário da mulher que os filhos preparam na véspera, disse-me que desabafou para quem o quis ouvir: “Só aqui falta o meu amigo Helder!” Claro que me embaracei e da minha boca não saiu palavra. Depois, bem vistas as coisas, quem acredita em Deus nunca está só. Ele é presença e ausência, é luz e trevas, é a essência mesma do espaço e do tempo. O tempo que aqui nos foi reservado é pouco importante quando comparado com o tempo que preencherá a nossa morte. Acredito que a eternidade comporta em si a significação e a esperança e, sobretudo, a equidade da nossa passagem por esta terra. Morrer é uma bênção. A famosa questão de Decartes: “ Eu existo?”  “Eu vivo?” “Eu sou?”  não me inquieta.