segunda-feira, julho 25, 2022

Segunda, 25.

A recorrente ideia do mistério que me envolve desde que nasci. Outro dia, a Carmo Pólvora, à mesa do restaurante, não sei a que propósito, saiu-se com esta que me habita qualquer coisa que escapa à clarividência de quem comigo se cruza. Tento, mais uma vez, obter a chave do mistério, mas ela arredonda a resposta, diz que estou sempre ausente, que ninguém consegue penetrar no meu interior, “mesmo agora que estamos a falar os dois, vejo que não estás aqui. Depois, falas pouco de ti, nunca te abres completamente, não digo que escondas qualquer coisa, não, mas há como que uma barreira que não deixa que nos aproximemos”. Enfim, se há um mistério, que ele faça jus à sua natureza e fique inexplicável...  

         - Com o romance encalhado, é à leitura que consagro grande parte do tempo. Ana Boavida, um ano depois da morte do marido, ensaia nova existência e volta a cruzar-se com a liberdade próxima da sua juventude. É esse período de adaptação que tenho de compreender e dar tempo à acção romanesca para se espraiar, que me ocupa nesta altura. Forçar a nota, é quase sempre deitar ao lixo horas de trabalho. A par das leituras, também o campo me absorve pelo menos uma hora, cedo, hoje o corte da relva em volta da piscina e, quotidianamente, regas.