sexta-feira, dezembro 10, 2021

Sexta, 10.

Um pouco inopinadamente, eis-me instalado no esforço quotidiano do trabalho no romance. Espero que seja consistente e não me atrapalhe o sistema nervoso que introduz pressa no pensamento e displicência na escrita. A subordinação é a força motora de todo o sistema, da criatividade ou da inspiração, e vem em linha directa das horas necessárias ao sonho enquanto filão competitivo com a sornice. 

         - Fui almoçar com Fr. Hélcio num restaurante perto do apartamento onde vive para os lados da Avenida da Igreja. Ágape onde não se falou dos seus pobres, de religião, apenas esteve à mesa a boa disposição, a galhofa e a risada do principio ao fim – e assim foi melhor. 

         - No metro que me levou depois aos CTT no Corte Inglês, entrou um avantajado indiano vestido à maneira turbante incluído. Na frente tinha dois indianos também. O recém-chegado, vem encher com o seu físico enorme a carruagem já de si bastante repleta. Como ele se sentou a meu lado, temi pela aproximação. Mas de repente, ele saca da mochila um livro. Eu digo mentalmente: “Bom, o homem lê deve ser informado.” Daí a momentos, vejo-o tirar do bolso uma espécie de walkman e põe-se a dizer qualquer coisa na sua língua que os meus ouvidos reconhecem a palavra “central”. Os compatriotas olharam-no de soslaio. Eu aproveito e dou uma olhada ao livro que ele lê com atenção - era o Corão e eu murmurei para mim: “Mantenho o que disse.”