Sábado, 2 de Novembro.
No Chile, não obstante a brutalidade da
polícia, dos mortos e feridos, os chilenos compreenderam que só ganham a
autonomia democrática, se enfrentarem o presente com denodo. É isso que têm
feito diariamente. Os tumultos da capital estenderam-se a todo o território e o
Presidente foi obrigado a cancelar dois ou três acontecimentos internacionais
importantes que deviam ter lugar no país. É com esperança que vejo todas estas agitações,
como se estes povos longínquos tivessem vindo espreitar estas páginas e
pusessem em prática o que aqui aconselho com frequência. Pouco me importa que
me chamem anarquista. Não digo, como o outro, que “estou-me a cagar” porque não
pertenço à sua laia. Afirmo com convicção cívica, democrática, humana que no
mundo de hoje, governado por propagandistas e gente sem qualidade e nível, os
povos mais do que nunca têm de assumir em mãos o seu destino. As ruas, através
dos séculos democráticos, sempre foram passadeira do homens livres, que põem a
liberdade acima das conveniências partidárias, dos interesses mesquinhos, da
demagogia, do populismo, da covardia. Saiamos, pois, à rua e gritemos bem alto
que é no equilíbrio entre capitalismo e sociedade humanizada, entre consumo e
esbanjamento, entre pobres e ricos, entre crentes e descrentes, que o emissário
da igualdade terá de passar porque fomos criados para alegria e a felicidade e
não para a soturnidade e a escravatura. Não me calo “porra”!