Domingo, 24.
Dia pardacento, alguma chuva. Ontem,
depois do almoço, fomos a Ursula eu, a que se juntou mais tarde a Annie e o
Robert, a Meudon. O museu de Rodin que eu visitara com o Eugénio há alguns
anos, e nenhum dos meus amigos conhecia, fica num grande parque que o escultor
adquiriu nos finais do século XIX para aí trabalhar e vir a ser sepultado. O
seu atelier, as divisões pessoais, a sala de exposição dos clássicos e a dos
gessos que deram origem a esculturas que o genial artista criou ajudado por uma
equipa de obreiros que todos os dias praticavam a seu lado, são hoje o espólio
que Auguste Rodin deixou ao Estado francês. O seu imenso trabalho, a par de uma
vida desalinhada com o seu tempo, está por todo o lado, ali como no seu museu
em Paris, oferecendo aos vindouros toda a concepção de uma arte que não se
apartou das origens clássicas. Ver aquelas esculturas que a memória não olvida,
estar perto delas para escutar os seus segredos, as suas formas, a expressão
que reconstitui a intimidade dos seus modelos, é um privilégio que se estende
por salas e jardim. A força, a pujança, a criatividade de Rodin, nem sempre
compreendida pelas instituições oficiais, está ali para dar testemunho não só
do artista como de uma época.
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Diante da energia que a obra expele, o visitante está a mais. |
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O grande Balzac |
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O atelier do artista |
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La Défense ou l´Appel aux armes, 1879 |
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Le Pensador sobre a campa de Auguste Rodin |
- Meudon é uma pequena vila nos arredores de Paris. O filósofo Maritain
que vivia lá e lá faleceu, deve ter calcorreado os jardins do museu
sobranceiros ao Sena. À primeira impressão, somos arrebatados pela paisagem de
um bucolismo impressionista, as árvores quase despidas das folhas da cor do
Outono, atapetam o chão que pisamos com delicadeza para não as magoar. Evola-se
no ar o perfume das lareiras, respiram-se os odores dos jardins adormecidos,
das casas fechadas, das ruas caladas onde ninguém passa, dos cafés vazios, dos
becos umbrosos. Dir-se-ia que o mundo de Rodin imobilizou-se para trazer aos
nossos dias a sua obra gigantesca, que traduz a genialidade dos seus pares,
escritores e pintores, sem esquecer aquela que tanto sofreu e tão maltratada
foi por ele – Camille Claudel, artista talentosa que morreu na obscuridade.
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O imponente chalé de Rodin, Meudon. |
- Anteontem deambulei por la Défense com a sua feira de Natal inaugurada
na véspera. Como é o segundo ano que a visito depois do fecho do gigantesco Marché de Noel (o computador não possui
tremas) dos Champs Élysées, não vejo em que é que aquele difere deste outro. O
motivo que levou a Presidente da Câmara de Paris a acabar com o mercado no
centro da cidade – produtos de pouca qualidade, repetição de mercadorias
contrabandeadas, alinhamentos de marcas falsificadas -, está inteiro no novo
espaço. A mim o que me lá leva, é a compra dos produtos da marca Marseillaise de
que me abasteço para o ano inteiro. O sítio é sinistro, de fugir.
- Forte adesão às eleições para eleger o chefe do Conselho Executivo de
Hong Kong. Neste escrutínio, os pró-democracia pretendem sair vencedores. Os
manifestantes que há seis meses lutam nas ruas, interromperam os protestos para
deixar que o veredicto funcione livremente. Desde que o território retornou à
China em 1997, que não se via tanta gente a votar. O resultado só se saberá
mais tarde.
- Evidentemente, o ágape com o Francis foi delicioso sob todos os pontos
de vista, o galo que ele confecionou estava uma delícia, a conversa não teve
uma trégua, e, devido à posição oficial que foi a sua, todos os acontecimentos
históricos da Rússia a Marrocos, de Estaline a Hitler, de Lenine a Napoleão
III, nada faltou e muito ficou por contar. A única ausência – o seu petit oiseau.