domingo, novembro 24, 2019

Domingo, 24.
Dia pardacento, alguma chuva. Ontem, depois do almoço, fomos a Ursula eu, a que se juntou mais tarde a Annie e o Robert, a Meudon. O museu de Rodin que eu visitara com o Eugénio há alguns anos, e nenhum dos meus amigos conhecia, fica num grande parque que o escultor adquiriu nos finais do século XIX para aí trabalhar e vir a ser sepultado. O seu atelier, as divisões pessoais, a sala de exposição dos clássicos e a dos gessos que deram origem a esculturas que o genial artista criou ajudado por uma equipa de obreiros que todos os dias praticavam a seu lado, são hoje o espólio que Auguste Rodin deixou ao Estado francês. O seu imenso trabalho, a par de uma vida desalinhada com o seu tempo, está por todo o lado, ali como no seu museu em Paris, oferecendo aos vindouros toda a concepção de uma arte que não se apartou das origens clássicas. Ver aquelas esculturas que a memória não olvida, estar perto delas para escutar os seus segredos, as suas formas, a expressão que reconstitui a intimidade dos seus modelos, é um privilégio que se estende por salas e jardim. A força, a pujança, a criatividade de Rodin, nem sempre compreendida pelas instituições oficiais, está ali para dar testemunho não só do artista como de uma época.
Diante da energia que a obra expele, o visitante está a mais.

O grande Balzac 

O atelier do artista 

La Défense ou l´Appel aux armes, 1879

Le Pensador sobre a campa de Auguste Rodin 
         - Meudon é uma pequena vila nos arredores de Paris. O filósofo Maritain que vivia lá e lá faleceu, deve ter calcorreado os jardins do museu sobranceiros ao Sena. À primeira impressão, somos arrebatados pela paisagem de um bucolismo impressionista, as árvores quase despidas das folhas da cor do Outono, atapetam o chão que pisamos com delicadeza para não as magoar. Evola-se no ar o perfume das lareiras, respiram-se os odores dos jardins adormecidos, das casas fechadas, das ruas caladas onde ninguém passa, dos cafés vazios, dos becos umbrosos. Dir-se-ia que o mundo de Rodin imobilizou-se para trazer aos nossos dias a sua obra gigantesca, que traduz a genialidade dos seus pares, escritores e pintores, sem esquecer aquela que tanto sofreu e tão maltratada foi por ele – Camille Claudel, artista talentosa que morreu na obscuridade.
O imponente chalé de Rodin, Meudon.

         - Anteontem deambulei por la Défense com a sua feira de Natal inaugurada na véspera. Como é o segundo ano que a visito depois do fecho do gigantesco Marché de Noel (o computador não possui tremas) dos Champs Élysées, não vejo em que é que aquele difere deste outro. O motivo que levou a Presidente da Câmara de Paris a acabar com o mercado no centro da cidade – produtos de pouca qualidade, repetição de mercadorias contrabandeadas, alinhamentos de marcas falsificadas -, está inteiro no novo espaço. A mim o que me lá leva, é a compra dos produtos da marca Marseillaise de que me abasteço para o ano inteiro. O sítio é sinistro, de fugir.


         - Forte adesão às eleições para eleger o chefe do Conselho Executivo de Hong Kong. Neste escrutínio, os pró-democracia pretendem sair vencedores. Os manifestantes que há seis meses lutam nas ruas, interromperam os protestos para deixar que o veredicto funcione livremente. Desde que o território retornou à China em 1997, que não se via tanta gente a votar. O resultado só se saberá mais tarde.


         - Evidentemente, o ágape com o Francis foi delicioso sob todos os pontos de vista, o galo que ele confecionou estava uma delícia, a conversa não teve uma trégua, e, devido à posição oficial que foi a sua, todos os acontecimentos históricos da Rússia a Marrocos, de Estaline a Hitler, de Lenine a Napoleão III, nada faltou e muito ficou por contar. A única ausência – o seu petit oiseau.