segunda-feira, novembro 11, 2019

Segunda, 11.
Fomos de abalada atravessando o Rhin que antes de Schengen servia de fronteira entre a França e a Alemanha, à primeira cidade germânica de Kehl Rathause. Sítio moche sem nenhum interesse salvo para os franceses que aí vão fazer compras por a vida ser mais barata. Contudo, não é preciso muito para ouvir dos estrasburgueses que os senhores eurodeputados lhes inflacionaram a vida. Os impostos são dos mais altos de toda a França. Com os seus 20 mil euros mensais, os queridos deputados vivem à grande e à europeia, enquanto os naturais se esforçam por esticar o salário de pouco mais de 1500 euros. 

         - Exposição Kathe Kollwitz (1867-1945). Que bela descoberta! Que força possessiva! Que expressão artística como retrato de um tempo, voz dos desprezados da sorte, denúncia da supremacia da classe opressora e vigor no registo de um tempo tenebroso, e esta determinação: “Je veux agir dans ce temps!” E fê-lo ao lado dos que sofrem, contra a guerra, a pobreza, a morte. Artista multifacetada – escultura, desenho, pintura, gravura – uma parte de tudo isto pude admirar durante as horas que passei na galeria de exposições temporárias. Os seus retratos são de um impressionismo que nos suspende a respiração, observados pelo olhar marcado pela revolta, que impõe a sua razão e por ela desbrava conceitos e protótipos que assentam na condição humana dos trabalhadores-escravos que até ao final do século XIX eram em maioria nas sociedades ditas de abundância que começavam a proliferar pela Europa industrial. Culta, Kathe Kollwitz, vai beber na  peça de Gerhart Hauptmann, Die Weber, o ciclo de gravuras a que chamou “Une Révolte des tisserands”, que mais não é que as imagens da insurreição dos trabalhadores pobres da Silésia, em 1844. Em consequência, a morte surge como condição das personagens condenadas cedo a perecer vítimas da miséria e do abandono social. Diversos trabalhos testemunham estas preocupações. Nos finais do século XIX, ressurge outro ciclo marcado pela guerra dos rurais no centro do Santo Império Romano germânico: regiões alpinas, Alsácia, Roménia, Alemanha Central. A artista atinge se se pode dizer o seu auge. As gravuras dessa época são notáveis técnica e estilisticamente. Nelas a presença marcante das crianças, inspiradas nos seus filhos. As águas-fortes, os desenhos a cravão, os inúmeros auto-retratos, são sempre a expressão de uma preocupação social e política, de um empenho claro contra a guerra, as duas que o século passado forjou. Com a República de Weimar, ela é reconhecida, ela e muitos outros artistas que sob o Império Alemão foram votados ao ostracismo. Depois da Primeira Guerra Mundial, a inflação galopante e o retorno à miséria, à fome é com ela que contam as organizações que lhe fazem frente. Daí os muitos cartazes e brochuras para as organizações humanitárias, sindicais e políticas. Mulher de esquerda, foi interrogada pela Gestapo e ameaçada com o campo de concentração, proibida de expor. Morre em 1945, registando no seu diário:  “Les graines de semence ne doivent pas être moulues. Plus jamais la guerre n´est pas une aspiration, mais une ordre. Une exigence.”   
Auto-retrato últimos anos de vida


Retrato de Eugène Carrière




  



Auberge à Konigsberg 

Tu saignes de nombreuses blessures, ó peuple



       - Como era previsível, o PSOE não só não teve a maioria, como perdeu três deputados. O grande ganhador, é o VOX dito de extrema-direita, que é agora o terceiro partido nacional, com mais 28 deputados que em Abril passado. Tudo graças ao menino Pedro Sánchez e ao seu populismo e arrivismo.