Segunda, 11.
Fomos de abalada atravessando o Rhin que
antes de Schengen servia de fronteira entre a França e a Alemanha, à primeira cidade
germânica de Kehl Rathause. Sítio moche
sem nenhum interesse salvo para os franceses que aí vão fazer compras por a
vida ser mais barata. Contudo, não é preciso muito para ouvir dos estrasburgueses
que os senhores eurodeputados lhes inflacionaram a vida. Os impostos são dos
mais altos de toda a França. Com os seus 20 mil euros mensais, os queridos
deputados vivem à grande e à europeia, enquanto os naturais se esforçam por
esticar o salário de pouco mais de 1500 euros.
- Exposição Kathe Kollwitz (1867-1945). Que bela descoberta! Que força
possessiva! Que expressão artística como retrato de um tempo, voz dos
desprezados da sorte, denúncia da supremacia da classe opressora e vigor no
registo de um tempo tenebroso, e esta determinação: “Je veux agir dans ce temps!”
E fê-lo ao lado dos que sofrem, contra a guerra, a pobreza, a morte. Artista
multifacetada – escultura, desenho, pintura, gravura – uma parte de tudo isto
pude admirar durante as horas que passei na galeria de exposições temporárias.
Os seus retratos são de um impressionismo que nos suspende a respiração,
observados pelo olhar marcado pela revolta, que impõe a sua razão e por ela
desbrava conceitos e protótipos que assentam na condição humana dos
trabalhadores-escravos que até ao final do século XIX eram em maioria nas
sociedades ditas de abundância que começavam a proliferar pela Europa
industrial. Culta, Kathe Kollwitz, vai beber na
peça de Gerhart Hauptmann, Die
Weber, o ciclo de gravuras a que chamou “Une Révolte des tisserands”, que
mais não é que as imagens da insurreição dos trabalhadores pobres da Silésia,
em 1844. Em consequência, a morte surge como condição das personagens condenadas
cedo a perecer vítimas da miséria e do abandono social. Diversos trabalhos
testemunham estas preocupações. Nos finais do século XIX, ressurge outro ciclo
marcado pela guerra dos rurais no centro do Santo Império Romano germânico:
regiões alpinas, Alsácia, Roménia, Alemanha Central. A artista atinge se se
pode dizer o seu auge. As gravuras dessa época são notáveis técnica e
estilisticamente. Nelas a presença marcante das crianças, inspiradas nos seus
filhos. As águas-fortes, os desenhos a cravão, os inúmeros auto-retratos, são
sempre a expressão de uma preocupação social e política, de um empenho claro
contra a guerra, as duas que o século passado forjou. Com a República de
Weimar, ela é reconhecida, ela e muitos outros artistas que sob o Império
Alemão foram votados ao ostracismo. Depois da Primeira Guerra Mundial, a
inflação galopante e o retorno à miséria, à fome é com ela que contam as
organizações que lhe fazem frente. Daí os muitos cartazes e brochuras para as
organizações humanitárias, sindicais e políticas. Mulher de esquerda, foi
interrogada pela Gestapo e ameaçada com o campo de concentração, proibida de
expor. Morre em 1945, registando no seu diário: “Les graines de semence ne doivent pas être
moulues. Plus jamais la guerre n´est pas une aspiration, mais une ordre. Une
exigence.”
Auto-retrato últimos anos de vida |
Retrato de Eugène Carrière |
Auberge à Konigsberg |
Tu saignes de nombreuses blessures, ó peuple |
- Como era previsível, o PSOE não só não teve a maioria, como perdeu
três deputados. O grande ganhador, é o VOX dito de extrema-direita, que é agora
o terceiro partido nacional, com mais 28 deputados que em Abril passado. Tudo
graças ao menino Pedro Sánchez e ao seu populismo e arrivismo.