Sexta, 20.
Há mais um caso que se tem desenvolvido
ao longo destes últimos anos e agora se aproxima do fim e envolve dois quadros
do ex-BES: a EDP chinesa na altura portuguesa, dois ex-governantes: Manuel
Pinho e António Mexia. No topo está o banqueiro Ricardo Salgado que vai acabar
por morrer sem saber se conseguiu convencer o país e os juízes da sua inocência
na talega de processos em curso nos tribunais. O ex-banqueiro é suspeito de
mais um caso de corrupção na pessoa do homem dos chifres, à época ministro da
Economia, para obter benefícios enquanto accionista de referência da eléctrica.
Os juízes suspeitam que Sócrates também molhou a mão nos dinheiros do seu
ministro, para cima de meio milhão de euros. Assim como Mexia, João Neto e o
ex-presidente da REN Rui Cartaxo. Cruzes! Não há ninguém que escape. Eu se
fosse político ou governante demitia-me. Ter sobre mim uma plêiade de gatunos, é
desmoralizante e pode prestar-se a cumplicidades.
- Das 10,30 às 20 horas estive com o Corregedor. Primeiro na Brasileira,
depois no meu velho bairro onde almoçámos, de seguida no Pátio Bagatela que
frequentei durante anos, após no Amoreiras, todo o caminho feito a penates
para, enfim, tomarmos o autocarro que nos deixou no Corte Inglês e dali à
Gulbenkian para a inauguração da mostra Pop
Arte. O João é um conversador nato, da velha guarda, com vidas e
personagens que se cruzaram comigo e ambos somos uma espécie de esponja dos
acontecimentos sociais, políticos, profissionais e pessoais de uma época áurea
onde tudo acontecia no espaço tangente de um suspiro. Eu não sabia que ele
tinha entrado para deputado por desistências de outros. Quando foi convidado a
integrar a lista do MDP, o meu amigo pediu para ficar em último na certeza de
que não seria eleito e poderia prosseguir a carreira de jornalista, sendo esse
o seu desejo. Retenho do muito que se conversou, por vezes no alvoroço dos
temas, esta nota. Um dia ele vai num transporte público e vê uma senhora (a
única) a ler. Entusiasmado diz-lhe da sua satisfação em ver alguém entregue à
leitura, e ainda por cima ao poeta Manuel Alegre. Ela responde-lhe, furiosa:
“Este tipo é um...” João encolheu-se e afastou-se de queixo caído...
- Quando o desânimo e a descrença nos invade, refugiemo-nos em Deus e
nos autores que nos trouxeram à vida abastanças de esperança e encantamento.