Segunda, 23.
O Daesh, ao contrário do que pensa e diz
Chou Chou, não está morto. Acaba de o afirmar ao matar para cima de meia
centena de afegãos em Cabul, que se preparavam para votar e ao ferir mais de
uma centena. Um atentado ao modo a que nos acostumou, europeus, e fomos
mártires: utilizando um infeliz que se prestou a morrer em nome do fanatismo e
do ódio que lhes entope o discernimento e a razão. O Afeganistão, de resto,
vive no temor deles e dos talibãs.
- Dizer o que disse num dia claro, cheio de sol puro, com o coração
apertado de descrença nos sistemas políticos e religiosos, raia o absurdo. E
todavia, esta loucura dá-nos o limite da nossa fragilidade, a certeza que
podemos desaparecer daqui a segundos, amanhã, ou... Razão de sobra para que nos
empenhemos em sermos melhores em cada dia banhado da luz terna do astro-rei.
- Em Seia, seis meses depois
dos terríveis incêndios, mais de 76 casas continuam debaixo das cinzas,
famílias inteiras desesperam por ajuda que o Estado lhes prometeu e depressa as
esqueceu, desligadas as câmaras de televisão, nenhumas eleições próximas, a
propaganda de meses ensaiada diante do sofrimento e da solidão da montanha
negra com os esqueletos das árvores por paisagem. Todos ouvimos falar ou lemos
nos jornais que havia milhões para acudir aos desesperados. Tudo não passou
afinal, não passa de propaganda. Este Governo é genial a enganar o povo, sobretudo
o povo simples, martirizado, que o fogo empobreceu ainda mais. O Verão não
tarda, os fogos também não. Da mixórdia dos discursos sobeja a aflição daqueles
que ficaram sem familiares, vizinhos, casas, árvores e gado.