quarta-feira, abril 18, 2018

Quarta, 18.
Dia arrasante. Quando de manhã muito cedo me encontrava a queimar resíduos dos trabalhos no campo depois de ter aberto as covas, enchendo-as com estrume, e deixando nelas pevides de abóboras, irrompem pela quinta o Fortuna e o Brejnev. Vinha o mestre emendar os erros da mesa do pátio, um ano após tê-la deixado a fazer-me concorrência coxeando das quatro patas ou dançando como bêbeda quando os amigos nela abancavam. O trabalho durou até ao meio-dia, não tendo eu parança a dar-lhes assistência. Depois do almoço, regressou apenas o Brejnev que passou a tarde a abrir os taralhoucos mais grossos e a empilhar os restantes, continuando os muros de madeira que eu venho fazendo desde o início do ano. Cansado, mas feliz pelo dia glorioso, com sol a jorro e um brilho lampejante a deixar no campo a marca indelével da Primavera.

         - E todavia, oh, glória suprema! Logo os primeiros raios de sol acariciaram os meus companheiros disponíveis a qualquer hora do dia ou da noite, para virem em auxilio do solitário homem que não cessa os amar, discutir com eles, surripiar-lhes momentos mágicos que fluem das suas páginas em laudas encantatórias de beleza, poesia e sagesse. Sem eles o que seria de mim, pobre ignorante lançado às feras de um mundo que os substituiu pela pobreza da cultura mastigada, espreitada nas redes sociais, onde o vazio impera e forma os analfabetos de amanhã.


         - Ontem à noite fui-me deitar aturdido com tantos milhões que José Sócrates ganhou nos seis anos que nos desgovernou e se governou à grande e à francesa. O trabalho da SIC é notável, muito consistente e perfeito no descasque da vidinha airada do nosso gatuno número um (Alves dos Reis é um aprendiz ao lado dele). A dada altura o homem, desculpem, o senhor engenheiro de canudo passado ao domingo, diz: “Eu sou um pobre provinciano que andou na política como todos os outros por vaidade.” Nunca a criatura falou tão verdade e tão acertadamente. Deve ser então este o fraco que leva os políticos manhosos e arrogantes a exercer o poder. Quanto ao mais, na roda demoníaca dos milhões que lhe tombavam de todos os lados e continentes, o socialista (pois então!) dizia não se lembrar de nada ou quase nada. Furioso, permitiu-se tratar como quis o magistrado que o interrogava. E tentou aquilo que os trapaceiros da política quando são atacados asseguram: isto é um julgamento político. Eu pergunto: a quantos dos arguidos – sendo nós todos iguais perante a lei republicana – era consentido falar daquele modo aos juízes? Só a sua excelência-ladrão-primeiro-ministro-engenheiro-escritor José Sócrates. O tal que esteve a estudar na Sorbonne, aprendeu piano no seizième arrondissement de Paris e voltou com esta ideia: tudo é uma questão de narrativa. Só que a dele não convence os juízes nem os portugueses.


         - Parece que houve encenação na Síria com as crianças atingidas por armas químicas. Se for verdade, é assustador e leva-nos a largar a pouca confiança que hoje temos na classe política. O trio de ataque, não esperou pelas provas independentes pedidas pela ONU e exigidas por Putin. Que eles são capazes disso, eu não tenho dúvidas.