quinta-feira, abril 26, 2018

Quinta, 26.

Julien Green, ia já nos 77 anos de vida, quando esteve em Chiraz, Persépolis e Teerão. Fui comparar a sua impressão do país com o que escreveu Pierre Loti e este é incomparavelmente mais assertivo, entusiasta, poético e conhecedor. Green viaja como um burguês instalado nos fabulosos direitos de autor, Loti transita no imprevisto, apanha sustos, percorre o território montanhoso debaixo de temperaturas alucinantes,  enfrenta mil problemas. Depois a linguagem do autor de Vers Ispahan é extremamente rica, conhecedora da antiguidade, da flora que na Pérsia de então era a imagem de um mundo evoluído que tinha na natureza o reflexo da sua essência. Ambos visitam os túmulos de Dario, Artaxerxes, Xerxes, Cirus, mas Loti conversa com as pedras, toca a divindade e entra na antiguidade para oferecer ao leitor a sua impressão, a emoção que vive ao ver a beleza pura dos azulejos, extasia-se com o verde que por todo o lado impera, chora sobre a degradação dos palácios, demora-se a meditar na história que vem lá de trás, dos povos que tinham já uma ciência, uma arte, uma filosofia, uma cultura que os europeus estavam longe de possuir, ouve o silêncio que se move nas abóbadas em estalactites de neve que os mortos cobrem com a sua presença eterna. Green tem um desabafo que o redime:  ici il y a une contagion de l´absolu”.