Sexta, 13.
O frio retornou. Há pelo menos dois
meses que tem chovido todos os dias com intensidade. Há água a rodos por todo o
país e dizem-nos que a temos para dois anos de canícula. Uma noite destas,
dormi mesmo de calorífero ligado, em Abril! Isto para dizer que, não obstante
os temores que tenho quanto à sustentação do Planeta, a Natureza rege-se por
regras que contêm em si formas de regulação que escapam aos delírios humanos e
à ganância daqueles que em seu nome aproveitam para ganhar milhões, mas que
estão como sempre estiveram nas tintas para o seu equilíbrio. Por outro lado,
as grandes multinacionais, são quem dirige o mundo e a política. Os
governantes, pouco esclarecidos, aceitam de mão beijada as suas instruções, que
digo eu, as suas imposições.
- “Que havemos de fazer de nós esta tarde. A vida começa quando chega o
outono e o tempo arrefece.” Aqui está um lamento próprio das pessoas ricas e
desocupadas como Daisy no romance O
Grande Gatsby de F. Scott Fitzgerald.
- Para mim é por de mais evidente que as superpotências armadas até aos
dentes, ensaiam ao cair das sombras a forma de começar a terceira guerra
mundial. Testam-se umas às outras, a América contra a Rússia, espreitando a distância
a China, cautelosa. Vem isto a propósito dos ataques químicos lançados sobre
Douma, na Síria. Como se pode apurar quem foram os criminosos quando na zona
estão turcos, curdos, os que combatem Assad, resquícios do Daesh, Rússia e
decerto outras tropas internacionais. Aquilo é um vulcão perigoso, palco de
ensaios de grandes interesses geoestratégicos, em guerra há mais de quatro
anos, que vai acabar como outros países onde os Estados Unidos se envolveram,
quero dizer, pior do que estavam antes dos seus actos ditos misericordiosos e
salvíssimos.
- Ontem almocei com o João Corregedor e o meu retratista no Corte
Inglês. A dada altura veio à nossa mesa a escritora Alice Vieira
cumprimentar-nos. Que mulher fascinante! Apesar da doença está ali forte,
persuasiva, sorridente e generosa. O João apresentou-nos, mas eu disse-lhe que
já nos conhecíamos de longa data. Ela olhou-me sem descortinar de onde, mas vi
que nunca mais tirou os olhos de mim. Foi a Isabel da Nóbrega que nos
apresentou e quando me ocupei da obra de Maria Teresa Maia Gonzalez ela elogiou-me
os textos.
- Hoje, enfim, tive uma tarde sossegada aqui. Como o sol veio por aí
abaixo, deslumbrante, quente, luminoso aproveitei para limpar as figueiras,
cavar em volta e aplicar estrume de cavalo. Tenho uma adoração especial por
elas. Sempre que as vejo lembro-me dos gregos que à sua sombra filosofavam. Eu
não filosofo, ou antes, sim mas quando faço uma maravilhosa compota que é os
encantos dos amigos e particularmente da Annie.