Sábado, 21.
A exposição Pós-pop que na Gulbenkian foi inaugurada quinta-feira, e que
visitei na companhia do João, Guilherme, Maria, Maria Pia, e onde encontrei
vários artistas com quem privava em tempos com frequência, é digna da
representação artística dos pintores e escultores portugueses da geração de Sessenta
e Setenta. A nossa amiga Teresa Magalhães que por si só quase ia açambarcando o
certame, põe o dedo na ferida ao afirmar que “a realidade do país era muito
cinzenta, portanto era necessário colori-la “. De facto, é isso que a transcende
através de uma série de telas de um realismo vivo que se traduz não só na cor,
como na temática pragmática por vezes expressiva, outras vezes coberta pela matriz
do humor e da história tout court. Ali
misturam-se pintores ingleses e de outras nacionalidades, todos unidos na
descoberta conceptual de um mundo diametralmente oposto, mas com um dominador
comum: a liberdade. Alguns quadros já eu conhecia e foi, portanto, uma graça
revê-los, percorrer a história de um tempo ali materializada pela imagem que
tem por vezes mais força e expressão que a palavra soletrada sem convicção ou
hipócrita. Ficaram-me os olhos na obra de António Palolo, Manuel Batista,
Menez, Noronha da Costa e Sá Nogueira com dois belos trabalhos. O meu saudoso
amigo Covina Natividade era apaixonado pela sua pintura. Quando ia lá a casa
jantar, ficava diante de uma tela resplandecente de cor e força.
- Manhã diluviana, tarde banhada de um sol forte em bicos de pés como a
dizer-nos que ainda existe.