quinta-feira, abril 05, 2018

Quinta, 5.
São às centenas os idosos forçados a deixar as suas casas ao abrigo da lei de arrendamento trabalhada pela rainha das mães, Assunção Cristas. Uma pergunta indiscreta: quantos prédios e andares possui a dita senhora em Lisboa? Seria interessante saber-se. Eu podia adiantar um número.

         - O cuco já chegou. De tarde pôs-se a saudar-me inundando o espaço com o seu cântico ininterrupto. O Verão não tarda.


         - Todavia, é já a Primavera que se achega. As árvores estão todas floridas, as plantas rebentam de cor, todo o vasto espaço toma os aromas dos frutos e das flores. Esta altura do ano é a mais robusta, transmitindo-nos alegria e vontade de viver, força e criatividade. O céu dá de quando em vez um ar de Verão com laivos quentes a estenderem-se no largo lençol azulado que nos cobre de infinita serenidade. Até o silêncio parece espargir a doce e terna sensação de nos cobrir sob o seu manto benfazejo. Um verde intenso cobre todos os lugares e convida a colónia de formigas, répteis, coelhos a estenderem-se felizes ao sol das pradarias tumulares onde os desaparecidos se associam num cântico irmanado entre vivos e mortos. Como se a memória desta Primavera repolhuda, não fosse mais do que a continuação de outras quando na terra todos os seres humanos viviam à sombra de uma tardia eternidade.