Segunda, 15.
Duram já há uma semana os motins entre a
polícia e os manifestantes em Notre-Dame-des-Landes. A minha amiga Françoise
tem lá uma propriedade com uma mansão antiga que ela e o Jean-Paul recuperaram.
Arrastaram-se anos de indecisão quanto à construção ou não do aeroporto. Chou
Chou optou por desistir do empreendimento e correr com aqueles que se haviam
instalado para preservar o local e outros que aí levantaram o sítio das suas
habitações. A França de Macron é isto: um lugar feito para os ricos seus
amigos, para quem ele fez leis que os defendem, arrastando os assalariados que
trabalham honestamente pelas ruas da miséria e da indignação. Estes porém,
conhecendo há mais de um século as normas democráticas, combatem com as armas
que por enquanto ainda possuem: a greve. Há-as para todos os gostos e
actividades. Para não falar na situação dos infelizes imigrantes que pura e
simplesmente cercaram Paris de campos de concentração na forma pouco romântica
de tendas de ciganos. Chou Chou, digo-vos eu, vai acabar como o inchado
Hollande. Tudo o que tem feito – leis de trabalho, de imigração, dos
reformados, participação bélica na Síria – é um autêntico desastre.
- Outro dia o João Corregedor disse-me que eu sou tratado no grupo dos
nossos célebres artistas de poeta. “Como assim se eu nunca escrevi poesia?” A
resposta veio na ponta da língua: “Tu tens uma forma de falar muito poética.” Bref. O facto, porém, é que a crítica
que se ocupou dos meus livros, disse que eu tinha uma prosa poética. Bref encore. Se me permitem a minha
opinião, direi que tenho um modo de pensar, sentir, escrever que não surripiei
nem se compara com ninguém. Por umas quantas rezões e mais esta: sempre me
estive nas tintas para a moral, a família, a crítica e os leitores. Não escrevo
para nenhum destes grupos ou instituições. Escrevo por uma necessidade
intrínseca, para estar vivo, e porque sim. Vou citar e prometo não ser esta a
última vez Matzneff que, a propósito do autor de O Nome da Rosa, afirma: “Un écrivain, c´est une écriture, un univers
singulier, une patte, un style, des passions. Eco n´avait rien de tout cela. Un
écrivain? Non. Un humaniste, un habile fabricant de livres, un rat de
bibliothéque, un savant farci de
connaisances, un jongluer de concepts, un noircissuer de fiches. Bref (lá está!)
un pur intello. Tout sauf un écrivain, tout sauf un artiste. Mais aujourd´hui qui
est capable de faire la différence? D´où la prévisible “émotion universelle.” Ou seja a falta de conhecimento e cultura que
faz de uma qualquer medíocre personagem que aparece nos ecrãs de televisão, o mais
brilhante artista vindo daquele espaço sinistro entre a tropoesfera e a
mesoesfera.