segunda-feira, abril 16, 2018

Segunda, 15.
Duram já há uma semana os motins entre a polícia e os manifestantes em Notre-Dame-des-Landes. A minha amiga Françoise tem lá uma propriedade com uma mansão antiga que ela e o Jean-Paul recuperaram. Arrastaram-se anos de indecisão quanto à construção ou não do aeroporto. Chou Chou optou por desistir do empreendimento e correr com aqueles que se haviam instalado para preservar o local e outros que aí levantaram o sítio das suas habitações. A França de Macron é isto: um lugar feito para os ricos seus amigos, para quem ele fez leis que os defendem, arrastando os assalariados que trabalham honestamente pelas ruas da miséria e da indignação. Estes porém, conhecendo há mais de um século as normas democráticas, combatem com as armas que por enquanto ainda possuem: a greve. Há-as para todos os gostos e actividades. Para não falar na situação dos infelizes imigrantes que pura e simplesmente cercaram Paris de campos de concentração na forma pouco romântica de tendas de ciganos. Chou Chou, digo-vos eu, vai acabar como o inchado Hollande. Tudo o que tem feito – leis de trabalho, de imigração, dos reformados, participação bélica na Síria – é um autêntico desastre.


         - Outro dia o João Corregedor disse-me que eu sou tratado no grupo dos nossos célebres artistas de poeta. “Como assim se eu nunca escrevi poesia?” A resposta veio na ponta da língua: “Tu tens uma forma de falar muito poética.” Bref. O facto, porém, é que a crítica que se ocupou dos meus livros, disse que eu tinha uma prosa poética. Bref encore. Se me permitem a minha opinião, direi que tenho um modo de pensar, sentir, escrever que não surripiei nem se compara com ninguém. Por umas quantas rezões e mais esta: sempre me estive nas tintas para a moral, a família, a crítica e os leitores. Não escrevo para nenhum destes grupos ou instituições. Escrevo por uma necessidade intrínseca, para estar vivo, e porque sim. Vou citar e prometo não ser esta a última vez Matzneff que, a propósito do autor de O Nome da Rosa, afirma: “Un écrivain, c´est une écriture, un univers singulier, une patte, un style, des passions. Eco n´avait rien de tout cela. Un écrivain? Non. Un humaniste, un habile fabricant de livres, un rat de bibliothéque,  un savant farci de connaisances, un jongluer de concepts, un noircissuer de fiches. Bref (lá está!) un pur intello. Tout sauf un écrivain, tout sauf un artiste. Mais aujourd´hui qui est capable de faire la différence? D´où la prévisible “émotion universelle.” Ou seja a falta de conhecimento e cultura que faz de uma qualquer medíocre personagem que aparece nos ecrãs de televisão, o mais brilhante artista vindo daquele espaço sinistro entre a tropoesfera e a mesoesfera.